Trecho Histórico: importadora nos anos 50, Brasdiesel abriu caminho para Scania no mercado brasileiro

por Leandro Tavares,
especial para o Brasil Caminhoneiro

“Parece que foi ontem”. Esta é uma frase muito ouvida nos dias atuais, corridos, atarefados, dinâmicos, que deixam pouco espaço para que possamos parar e pensar sobre os acontecimentos da rotina. No entanto, no setor de transportes, essa afirmação expõe outro detalhe: a ausência dos caminhoneiros de fatos que ocorrem na vida de suas famílias enquanto eles estão nas estradas. Incrivelmente, mesmo com tantos anos de história da Scania no Brasil, “parece que foi ontem” poderia ser hoje um pensamento de Olinto Luiz Biazus, fundador da Brasdiesel, a primeira concessionária autorizada da marca sueca no Brasil.

Tudo começou em 1957, quando o empreendedor fundou a Brasdiesel S/A Comercial e Importadora. Antes, a casa vendia caminhões importados, tanto da Scania quanto de marcas concorrentes. “A família do senhor Olinto começou em 1946 com a importadora. Foi no início dos anos 50 que ela importou caminhões da Suécia, de 1954 a 1957. Quando teve a noticia de que a empresa viria ao Brasil, ainda vendíamos caminhões da Mercedes-Benz. Ambas as marcas pediram sede própria para continuarmos vendendo seus caminhões, e em 1960, quando começou a se formar a rede da Scania, fomos nomeados a primeira concessionária Scania no Brasil”, explica Itamar Fernando Zamette, atual diretor da Brasdiesel, em Ijuí.

Com a certificação veio o crescimento do grupo. “A Brasdiesel é uma empresa de Caxias do Sul e ao longo dos anos 60 e 70 e ela se consolidou no Rio Grande do Sul. Ela abriu uma filial em 1975 em Carazinho, que fechou em 2005, depois em Ijuí, Lajeado e Garibaldi“, conta o executivo. Com DNA gaúcho, a empresa busca desenvolver-se cada vez mais no estado. “Hoje temos acima de 50% de participação no mercado local”, revela Zamette.

Olinto Luiz Biazus, fundador da Brasdiesel

O diretor vai além e afirma enxergar ótimas possibilidades no Rio Grande do Sul por conta da forte presença de empresas do setor de transporte no estado. “Temos companhias grandes como a Randon, a Marcopolo, várias empresas vinculadas ao transporte rodoviário. Essa região é bastante dinâmica”, avalia.

Porém a ligação de uma concessionária com uma marca de caminhões não é uma via de mão única. Do outro lado, há uma empresa que quer levar seus produtos para novos mercados, e certamente a entrada no Brasil através do trabalho previamente realizado pela Brasdiesel é de grande importância para a Scania. “O relacionamento entre nós e a rede é totalmente voltado aos objetivos comuns dos negócios, tanto como unidade comercial quanto ao retorno do investimento da rede”, afirma Gustavo Andrade, gerente de desenvolvimento da rede Scania no Brasil, que tem como missão dar suporte aos concessionárias para o crescimento tanto da rede quanto da própria Scania no Brasil.

Diferenciar para evoluir

Assim como no resto do Brasil, o maior produto Scania que a concessionária oferece é o R 440. “É um modelo muito bem aceito aqui na região”, diz Zamette. Outro destaque é a linha de semipesados da marca. “Na região da Brasdiesel, estamos com 12% de participação entre os semipesados”, revela o executivo.

Brasdiesel nos anos 60, com o modelo 200 na vitrine

Porém não é somente com produtos que uma concessionária conquista espaço no mercado. É preciso oferecer serviços diferenciados. “Temos atitudes pioneiras no semipesado, com centro de treinamento com instrutor próprio e gerentes e vendedores dedicados ao seguimento”, explica. Os testes também são uma forma de abrir portas para negócios. “Estamos no quarto caminhão de test drive, pois a cada seis meses vendemos o produto que estava rodando com clientes. Eles (os semipesados) circulam nas nossas casas para testes, tanto o P 310 6×2 quanto o P 310 8×2“, fala Zamette.

Os clientes mais antigos da primeira concessionária Scania no Brasil podem até dizer: “parece que foi ontem que compramos nosso primeiro Scania”. Entretanto, são mais de 50 anos de Brasdiesel no mercado gaúcho. Apesar da memória viva de quem viveu aquela época, o Brasil mudou muito desde então. “As casas (concessionárias) foram engolidas pelas cidades. Precisamos seguir novas exigências”, confesse o diretor da concessionária. “Estamos investindo numa nova casa matriz para nos adequar ao mercado. Os caminhões estão muito maiores, e nossas casas estavam defasadas. Precisamos ampliar nossos espaços e deixá-los mais bem localizados”, afirma.

Brasdiesel nos ano 70, com o modelo 110 na fachada

A relação entre concessionária e fabricante chega ao ponto de que a mudança da matriz da Brasdiesel não pode ser feita sem planejamento, correndo riscos com as escolhas realizadas. Gustavo Andrade revela que, na outra ponta, do lado da Scania, o pedido de expansão é avaliado para ser viabilizado com estrutura firme. “Após o pedido da Brasdiesel, traçamos o plano de expansão da rede para os próximos anos”, disse o executivo.

Relacionamento e tradição: o segredo do negócio

Na época em que a rede Scania começou a se formar, a relação entre fabricante e concessionários, apesar de já profissional, ainda não possuía os mesmos métodos e procedimentos dos dias atuais. “Tivemos uma profissionalização da gestão do nosso negócio, tanto por parte da rede quanto da Scania. O mercado tem crescido numa exponencial muito grande, que nos leva a estreitar o relacionamentos para não perdermos as oportunidades do mercado e otimizarmos os recursos. O relacionamento tem sido nessa toada, para trazer à rede o que ela busca em resultados”, afirma o gerente de desenvolvimento da rede Scania no Brasil, Gustavo Andrade.

Matriz da Brasdiesel com os modelos 140 na fachada

Desde 1978, o relacionamento desta primeira casa não só com a Scania mas também com todos os grupos que possuem concessionária na rede é feito através da Assobrasc, entidade sem fim lucrativos que visa fortalecer as conversas da rede para alcançar maior eficiência operacional. Eficiência que evita, por exemplo, que novas lojas sejam abertas em pontos que possam concorrer com concessionárias já estabelecidas.

“A Scania tem entre suas responsabilidades mapear o mercado e encontrar as oportunidades de atendimento ao cliente, com sistemas, planilhas, processos, e isso é remetido à rede. É uma via de mão dupla. Isso é feito através dos planos de negócio e debates com a associação”, explica Andrade. “A ultima coisa que queremos é que o concessionário abra uma casa num local e não tenha movimento. Queremos que tenha rentabilidade ao longo do tempo”, conclui.

Brasdiesel nos dias de hoje

E após tantos anos de relacionamento com o grupo concessionário Brasdiesel, a tradição conquistada expõe a força da parceria. “Do lado da Scania, isso se reflete na confiabilidade do negócio e no atendimento ao cliente. A palavra tradição carrega o que construímos de maneira concreta. Ela é base de muito trabalho e esforço, com rede de concessionárias suprindo a marca”, diz Gustavo Andrade sobre o relacionamento duradouro com as concessionárias. Essa tradição e confiabilidade passa por todos os níveis do mercado. “Ainda tenho clientes desde aquela época (anos 50), com muitos anos de casa”, completa o diretor da Brasdiesel, reforçando o nome que concessionária e fabricante constroem juntos.

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