Agendamento muda cenário no Porto de Paranaguá

Quem acompanha o transporte rodoviário se lembra muito bem das inúmeras dificuldades dos caminhoneiros no desembarque de grãos no porto de Paranaguá, especialmente no período da safra. Filas quilométricas se formavam ao longo da BR-277, com milhares de caminhões esperando, por vários dias, a entrada no pátio de triagem.

Após a adoção de várias medidas operacionais, especialmente o agendamento de cargas, o cenário mudou. E neste mês, o porto completou quatro anos sem filas.

Em entrevista à Juliana Nogueira para o Rádio Siga Bem Caminhoneiro, Luiz Henrique Dividino, presidente da APPA, Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, falou do novo modelo logístico adotado no porto e sobre projetos de expansão do pátio de triagem.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

– O que levou a administração portuária a adotar esse sistema, que acabou com as filas de caminhões?

Em primeiro lugar, Paranaguá é um porto graneleiro. 80% das cargas que chegam aqui, chegam de caminhão. E se nós batemos recordes ou temos algum sucesso é porque esses caminhões escolhem Paranaguá como destino. Enxergando isso tudo e enxergando que, num passado não tão distante, nós tínhamos dificuldade com filas e mau atendimento, nós passamos a fazer um trabalho bastante técnico e consistente junto a todos os atores envolvidos – desde o porto, os terminais portuários, operadores, enfim, até os embarcadores. Entendemos que, se nós não resolvêssemos esse problema da fila, nós teríamos primeiro um caos social, deixando essas pessoas na estrada e, num segundo momento, dificuldades de logística e inclusive econômica. Isso nos motivou muito, nós desenvolvemos novos módulos de sistema com tecnologia.

Dividino e Edinho Araújo, ministro da SEP

– E como funciona esse sistema que mudou a vida dos caminhoneiros que transportam grãos até o porto de Paranaguá?

Obviamente, hoje temos tudo de última geração e o motorista também já está com seus smartphones, com toda tecnologia embarcada. Isso nos permitiu tratar as coisas com bastante cuidado. Não adianta o caminhão correr para chegar no porto se a carga dele nem é a que está na sequência para carregar o navio. Nós queremos que o caminhão chegue aqui para rapidamente passar na triagem, no pátio, descarregar e seguir sua linha de um frete de retorno ou buscar as novas cargas. Hoje, os motoristas podem acessar o sistema através de SMS dos seus próprios celulares e quando estão no pátio também são chamados pelo telefone, além dos outros meios convencionais. Mas a gente não deve se prender apenas à tecnologia. A gente tem que se prender ao cidadão. No nosso caso, nós somos o único pátio público portuário. Vamos manter isso, não vamos cobrar nada. É muito difícil manter um pátio público, todo mundo sabe das dificuldades do setor público hoje, mas em Paranaguá teremos o pátio público com tecnologia e esperamos, inclusive nos próximos 30 dias, já liberar o sinal wi-fi para todo o pátio e todos os caminhoneiros.

– E como o novo sistema foi recebido pelos caminhoneiros? E pelos produtores rurais?

Nós estamos bastante surpresos positivamente. No início, quando começamos a tratar do assunto, nós imaginávamos que nem todos deveriam ter um telefone que pudesse interagir com nossa base de dados. Descobrimos que (a adesão) é de 99%. Então, foi muito bem recebido pela comunidade e agora, quando a gente disponibilizar o wi-fi, todo caminhoneiro poderá ter acesso gratuito com banda larga. Ou seja, ele chega pra descansar, consegue contatar a família e se mantém conectado conosco, em tempo real. (Para os produtores rurais) Houve uma mudança muito grande. Nós fizemos campanhas de comunicação, mas isso não bastava. A diretoria do porto fez 17 viagens para as principais cidades do Paraná, Mato Grosso do Sul e chegamos até Goiás. Foi um trabalho de corpo a corpo. Quando a gente passou a informar toda a programação do que acontece no porto, isso obviamente permitiu ao caminhoneiro tomar algumas decisões. Por exemplo, se meu agendamento é para segunda-feira, vou passar o fim de semana com a família e depois vou para o porto.

– O último registro de filas foi em agosto de 2011. No primeiro semestre daquele ano, o porto recebeu 182 mil caminhões. No mesmo período de 2015, foram 233 mil veículos carregados de grãos. A previsão dos analistas é de que a safra cresça ainda mais. Há outras medidas a serem tomadas para melhorar ainda mais o embarque de grãos?

Temos sim e nós já estamos em execução. Contratamos uma empresa de engenharia para ampliação do pátio de triagem. O governo do estado do Paraná desapropriou 210 mil m² de área e nós devemos ganhar quase 40% de espaço. Quer dizer, nós estamos enxergando o futuro e não temos dúvida que se nós não continuarmos dando esse atendimento, logo logo essas filas voltam. Então, para que a gente tenha uma visão perene de atendimento ao caminhoneiro e à eliminação da fila, nós vamos aumentar o pátio de triagem. É uma obra muito grande, há muitos anos não se ouve falar em investimento de pátio de triagem público, pátio de estacionamento de caminhão público, mas no estado do Paraná é isso que estamos fazendo.

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