“Não tenho palavras para descrever o quanto gosto de ser caminhoneira”, diz Luzia Aparecida Dias

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Conheça a história da caminhoneira Luzia Aparecida Dias

A paixão pela profissão começou desde cedo para a caminhoneira Luzia Aparecida Dias, 50 anos. Desde pequena, Luzia ajudava o pai, Luiz Martins Dias, nas lavouras de arroz e milho da zona rural de Apucarana (PR). Começava ali a paixão pela direção.

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Realidade da infância na zona rural

Foi em um trator, instrumento de trabalho do pai, que a pequena Luzia, com apenas 12 anos encarou a direção pela primeira vez. Na mesma época, ela começou a enfrentar também a direção de um caminhão toco. Com o passar dos anos, o bom rendimento das colheitas, e, consequentemente melhores condições, o pai comprou um caminhão truck para puxar lenha, que contribuiu para o aperfeiçoamento de Luzia no volante. Era comum, ela lembra, as crianças acompanharem e atuarem com os pais nas tarefas do dia a dia.

Casamento ou Caminhão?

Aos 18 anos, Luzia ficou tão feliz quando o pai comprou um caminhão novo que preferiu ficar em casa e dirigir o pesado ao invés de se casar. “Eu namorei por três anos e no dia que meu pai comprou o novo bruto, meu namorado foi me pedir em casamento acompanhado da mãe. Quando eu vi meu pai chegar com o caminhão disse que não queria me casar com ele. Ele foi embora tão rápido, nem se despediu e largou a mãe dele para trás. Nunca mais nos falamos”, conta dando risada.

Pausa nos volantes

O tempo passou e em 1993 Luzia acabou se casando e se mudando para a cidade, onde deu um tempo no volante e foi trabalhar em outras áreas. Até que em 2011 foi convidada para uma entrevista de trabalho em uma pedreira da cidade.. “Eu nem tinha mandado currículo para a empresa e me chamaram. Até hoje não sei como eles me acharam”, afirma.

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Uma das únicas de Apucarana

Há seis anos na Pedreira Brasil, a caminhoneira trabalha em Apucarana e cidades da região no transporte de pedras, terra e areia destinados a asfaltamentos e loteamentos. Chegar à sonhada profissão foi motivo de orgulho dos pais. “Eles sempre me incentivaram a correr atrás do meu sonho, porque eles sabem que eu sou apaixonada por caminhões”. O motivo de orgulho aumenta quando Luzia afirma ser uma das únicas caminhoneiras na cidade; ela lembra de apenas mais uma senhora que trabalha na coleta de lixo do município.

Reações e preconceito

Luzia conta que já encarou as mais diversas reações quando está na boleia. “Algumas pessoas ignoram, enquanto outras ficam bem admiradas. Quando chego nas entregas e veem que é uma mulher, alguns homens até se afastam para trás. Fico muito sem graça”, afirma.

Em outros casos, a situação não fica apenas em um rosto de espanto ou admiração. “Em algumas entregas, os portões são estreitos, tem até que dobrar o parabrisa para entrar, então sempre tem alguns homens que chegam e perguntam se eu quero que eles estacionem pra mim. Eles acham que eu não tenho capacidade”, declara, rindo, já que os comentários não a incomodam mais.

Mas uma das piores situações para Luzia foi em uma ocasião em que uma pessoa perguntou se ela era um homem ou uma mulher. “Acredito que por não verem mulheres dirigindo caminhões, as pessoas criam questionamentos assim.”

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Incentivo e paixão

Sempre que encontra uma mulher que sonha pela mesma carreira, Luzia não pensa duas vezes antes de incentivá-la. “Muitas mulheres me falam que sonham em ser caminhoneira e eu digo: vá em frente, porque é muito bom e gostoso. É mais fácil que carro!”

Em cima da boleia, Luzia esquece os problemas, faz o que ama e ainda permanece sonhando por uma profissão com mais mulheres. “Não tenho palavras para descrever o quanto gosto de ser caminhoneira. Essa carreira é o que eu mais amo. Tudo o que envolve caminhão eu gosto de participar”, declara emocionada.

*Fotos: Arquivo Pessoal

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