CN Auto quer driblar impactos negativos do IPI e promete uma exposição diferenciada na Fenatran

por Fábio Rogério
da Redação

“Hoje, a China é um dos maiores parceiros comerciais do Brasil. E o que o governo federal faz?”, pergunta o diretor geral da CN Auto, Ricardo Strunz (foto acima). No dia 15 de setembro, a União aumentou em 30% o Imposto sobre Produtores Industrializados (IPI) para os carros que não tiverem 65% das peças produzidas no Brasil. Um golpe para empresas estrangeiras como a CN Auto, que planejava investir em uma unidade de montagem aqui no Brasil.

Apesar desse obstáculo econômico, a empresa, que é importadora oficial das vans Topic e minivans Towner (respectivamente, das chinesas Jinbei e Hafei Motor), ainda acredita no enorme potencial do mercado brasileiro, principalmente no nicho dos empreendedores, que decidem largar a condição de empregado para virar chefe.

O Portal Brasil Caminhoneiro entrevistou Ricardo Strunz, 57 anos, executivo com mais de 30 anos de experiência nas áreas de Vendas, Marketing, Planejamento Estratégico, Peças de Reposição, Assistência Técnica, Serviços e Atendimento ao Cliente. Strunz já passou por montadoras como Volkswagen, Ford e a extinta Autolatina.

Qual o resumo da experiência da CN Auto no mercado brasileiro de utilitários?
A empresa já conta com três anos de existência. Quando começamos, resolvemos trazer uma linha de comerciais leves para focar em um nicho de mercado onde não existia concorrência. Nosso foco sempre foi muito urbano. Queremos atender as necessidades de grandes cidades no transporte de mercadorias e pessoas, sem ter o impacto da restrição de circulação de veículos de carga, como acontece em São Paulo e outras cidades.

Outro fato importante é que a nossa empresa estava muito atenta a uma nova classe social que vinha emergindo. Nos últimos oito anos, mais de 100 milhões de pessoas entraram na classe “C”, e chegaram com um espírito empreendedor muito grande, abrindo seus próprios negócios. Por isso, viemos ao Brasil para criar soluções de aplicações no transporte de cargas e passageiros. Essa é a filosofia da empresa.

O perfil empreendedor do brasileiro é o que ajuda a alavancar as vendas? Ou a restrição a caminhões nos grandes centros é, hoje, o principal fator para gerar vendas?
Nós tivemos no Brasil a combinação dos dois fatores. Claro que existe a necessidade de movimentação de cargas médias e pequenas na distribuição dos grandes centros. Mas é a ascensão de uma classe altamente empreendedora, que vem abrindo pequenos e médios negócios como vidraçarias, pet shops, transporte de frutas, serviços gerais, etc. Chegamos até a trazer baús refrigerados, visando esse público.

Towner com entrada lateral para passageiros


O ano de 2011 foi marcado pela entrada de novas empresas orientais no Brasil. O mercado não está saturado para novas fabricantes?

O sistema de transportes no Brasil é predominantemente rodoviário. Os investimentos públicos e privados nas últimas décadas não tiveram nenhum foco em transporte fluvial ou marítimo. Em algumas regiões do Brasil, o que seria transporte público é suprido por autônomos (perueiros em São Paulo, “topiqueiros” na Bahia, etc.). Agora, os novos concorrentes vieram porque o Brasil hoje é o quarto maior mercado automobilístico do mundo. Ponto. A Europa está em recessão, os Estados Unidos – que estavam estagnados – vêm crescendo sobre uma base antiga. Quando se olha para um país como o Brasil, os investidores acreditam em nosso potencial.

O presidente da Foton comentou que o aumento do IPI mostra uma ignorância quanto ao fato de que a Ásia será o futuro da tecnologia do transporte.
A disponibilidade de capital para investimento em tecnologia de uma China é enorme. Então, o que o Japão levou em vinte ou trinta anos, a China vai conseguir em menos de uma década. Talvez a infelicidade do governo foi a de não ter uma visão de longo prazo.

Qual foi o impacto do aumento do IPI na CN Auto?
Todos os nossos produtos são 100% importados. E estávamos com um projeto de montar nossos veículos aqui no Brasil. Mas o aumento do IPI, tomado em 24 horas, nos afetou tremendamente. Não há condições de repassarmos isso no preço final, porque o consumidor não tem culpa. Estamos absorvendo neste mês a maior parte e tirando isso como prejuízo. Nós sabemos que há um nível de aceitação no mercado, e não podemos dizer para o consumidor que ele passará a pagar 30% a mais. É uma infelicidade a atitude do governo, pois nos atrapalharam profundamente. O problema é que o mercado de importados no Brasil sofre impactos de decisões tomadas por manchetes, de ‘alguém que disse’ que o problema da economia seria causado pelos importados. E nós nem somos os maiores importadores do Brasil. Mas resolveram dar um ‘tiro de canhão para matar mosquito’.

O maior parceiro do Brasil é a China. Nós precisamos de fluxo de caixa para investir, o que não é nem lucro. As pessoas confundem a capacidade de geração de fluxo de caixa para investimento com lucro. Lucro é o que sobra depois do investimento. Estamos há três anos trabalhando só para aplicar em investimentos, fizemos um aporte altíssimo no Estado do Espírito Santo em logística. Mas nossos projetos terão que ser freados porque o governo decidiu aumentar o IPI. Desanima um pouco, mas temos que olhar para a frente.

Topic para transporte de passageiros

Como será a participação da CN Auto na Fenatran?
Vamos expor como as nossas soluções de mobilidade são aplicadas em nossos produtos. Uma van para Pet Shop, por exemplo, terá em seu interior uma preparação com gaiolas, barras para segurar coleiras, ou seja, não iremos somente ‘adesivar’ o veículo. Também estamos preparando uma van de cosméticos, porque hoje existe um mercado astronômico de vendas porta a porta, de várias marcas, que não vendem em lojas, só através de representantes. E por isso preparamos um veículo onde, além da exposição dos produtos, será possível aplicá-los em demonstrações para os clientes.

Fotos: Divulgação

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