Custo logístico diminui competitividade de produtos brasileiros

O setor agropecuário lidera o crescimento econômico brasileiro. Neste ano, o país vai colher uma supersafra de grãos de 240 milhões de toneladas. Entretanto, o agronegócio patina em problemas históricos, como o gargalo do escoamento da produção.

Problemas logísticos na malha rodoviária afetam diretamente o rendimento da agropecuária brasileira.

O setor ganhou produtividade nos últimos 50 anos, mas o alto custo logístico provocado por falhas de infraestrutura faz o produto perder competitividade no mercado internacional.
“O custo do produtor, da saída da porteira da fazenda até o porto, é cerca de quatro vezes maior que nos EUA ou na Argentina. O mundo não vai pagar 20% ou 30% a mais”, afirmou Luiz Fayet, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O tema foi destaque no fórum Agronegócio Sustentável, promovido pela Folha.
Três países (Brasil, Argentina e Estados Unidos) concentram 80% da produção de soja no mundo e 90% do mercado de exportação. A competitividade nacional fica na rabeira do trio.
De acordo com estudo da Embrapa, se o Brasil conseguisse solucionar os problemas relacionados ao transporte de soja e milho para exportação, como rodovias precárias, filas nos portos e trens inadequados, os produtores teriam aumento de rentabilidade de até 35%.
Para os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Pedro Taques (PSDB-MT), o governo federal não reconhece a importância das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o que dificulta a criação de plano de investimento em logística.
“Em cerca de dez anos, a União não conseguiu pavimentar 100 km de rodovia para nos ligar a Santarém, no Pará, e a mercadoria poder sair pelo Norte. É uma vergonha”, afirmou Taques.
Já Perillo criticou o alto custo das rodovias federais. “Os Estados constroem cada quilômetro por cerca de R$ 1 milhão. Quando a rodovia é federal, chega a R$ 10 milhões o quilômetro, o que a torna inviável. Nada justifica o preço exorbitante.”
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) informou que as rodovias federais seguem padrão diferente das estaduais, como o tamanho do acostamento, o que influencia o custo da obra.
Os especialistas apontam também que problemas regulatórios e insegurança jurídica afastam os investimentos em infraestrutura.
A lei brasileira restringe a compra de navios produzidos no exterior, mas a indústria naval nacional tem custos inflados, segundo Fayet. “Se eu carrego um navio para sair do porto de Paranaguá (PR) e ir até Recife, o valor do frete será semelhante ao custo para transportar até Xangai.”
Outro ponto criticado foi a licitação para expansão da capacidade dos portos. “Cláusulas estabelecem que a concessionária deve aceitar novas normas que venham a ser editadas. Assim, ninguém entra numa concorrência”, diz Fayet.
O analista Gustavo Spadotti, do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica, da Embrapa, destacou três obras importantes para o Mato Grosso: asfaltar a BR-163, no trecho que liga o Estado aos portos do Norte, construir a ferrovia Ferrogrão, que liga Mato Grosso ao rio Tapajós, e dar vazão à Norte-Sul, subutilizada.
Já o CEO da Siemens no Brasil, Paulo Stark, defende o aumento de eficiência do transporte. “Aqui, tirando minério de ferro, 70% da carga transita em rodovia. Na China, são 22%.”
Com informações da Folha de São Paulo.
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