Acompanhe a entrevista:
Mitchel Pellegrini, mais conhecido como Mit Muriçoca, é uma figura conhecida entre os caminhoneiros e também no mundo digital. Além de rodar pelas estradas do Brasil, ele conseguiu expandir sua frota e se consolidar como empresário no setor de transporte. Hoje, à frente da TR Pellegrini, Mit compartilha sua experiência tanto nas estradas quanto na internet, inspirando outros profissionais da área.
Em um bate-papo exclusivo com o Brasil Caminhoneiro, ele falou sobre os desafios do transporte rodoviário, a falta de novos motoristas no mercado, sua trajetória de crescimento e como equilibrar a vida de empresário e influenciador digital. Confira!
O setor de transporte rodoviário enfrenta um apagão de motoristas, com a falta de novos caminhoneiros entrando no mercado. Na sua visão, quais são os principais motivos para essa escassez e como isso tem afetado o setor?
Essa falta de motoristas é relativa. Acredito que os grandes embarcadores, que compram muitos caminhões e precisam preencher essas vagas rapidamente, enfrentam mais dificuldades, principalmente porque buscam profissionais experientes para operar os veículos desde o primeiro dia. Já os médios embarcadores, que conseguem manter uma relação mais próxima com os motoristas e oferecem melhores condições, sentem menos esse impacto.
Outro fator importante é a remuneração. Empresas que pagam bem não costumam reclamar da falta de caminhoneiros. Além disso, a questão da qualidade de vida pesa muito. Antigamente, os caminhoneiros passavam meses na estrada, mas hoje muitos preferem ganhar um pouco menos e estar mais próximos da família. Também, há a questão da experiência: muitas empresas não dão oportunidade para quem está começando, o que dificulta a entrada de novos motoristas no mercado.
Nos últimos anos, você conseguiu expandir sua frota, comprando caminhões trucados e agora uma carreta baú. Como foi esse processo de crescimento e quais estratégias você usou para aumentar seu patrimônio nesse mercado tão desafiador?
Estou na estrada há 17 anos e sempre fui caminhoneiro. Em 2019 e 2021, surgiu a oportunidade de uma parceria com a Iveco, onde passei a administrar um caminhão com um funcionário. Gostei da experiência e percebi que poderia expandir. Então, liquidei alguns investimentos que tinha em outros setores e reinvesti em caminhões, pois o retorno era maior.
Fui crescendo de forma gradual, primeiro com três caminhões, depois quatro, até chegar aos cinco que tenho hoje. O crescimento trouxe desafios, como a necessidade de sair da boleia para focar na gestão. Recentemente, adquiri uma carreta baú, o que tem sido uma novidade e um aprendizado, pois cada segmento do transporte tem suas particularidades. Mas estou satisfeito, crescendo de forma saudável e aprendendo sempre.
Você tem caminhoneiros trabalhando com você no modelo de comissão sobre o frete. Como funciona esse formato e quais são as vantagens – tanto para você, como empresário, quanto para os motoristas que entram nesse sistema?
Hoje, trabalho com cinco caminhoneiros no modelo de comissão. Eu chamo isso de “meio caminhoneiro”, pois eles são microempreendedores individuais (MEI) e recebem com base no que produzem. Ou seja, quem trabalha mais, ganha mais.
Esse sistema é bom para os dois lados. O motorista recebe seu pagamento de forma rápida, sem muitos descontos e sem ter o Estado tomando uma fatia do que ele ganha. Para mim, como empresário, também é vantajoso, pois consigo manter um time motivado e produtivo. Tento sempre pagar um pouco acima do mercado para garantir que todos fiquem satisfeitos.
Para quem sonha em crescer no setor, assim como você fez, quais são os principais desafios que um caminhoneiro enfrenta ao dar o primeiro passo para se tornar dono de uma frota? Que conselhos você daria para quem quer seguir esse caminho?
O primeiro erro que cometi e que espero que outros não cometam foi comprar um caminhão muito velho e judiado. Perdi anos tentando recuperar o dinheiro investido. Então, minha dica é: tenha calma e cautela antes de fazer uma compra.
Além disso, relacionamento é tudo no setor de transporte. Sempre trate bem os motoristas, os clientes e as empresas com quem trabalha. Esse meio dá voltas e, mais cedo ou mais tarde, você reencontra as mesmas pessoas. Outro ponto essencial é o planejamento financeiro: evite dívidas altas e de longo prazo, pois um ano pode ser bom e o seguinte, ruim.
Por fim, nunca perca a vontade de crescer, mas mantenha os pés no chão. Crescer devagar e de maneira sustentável é o melhor caminho.
E ser “influencer” é mais fácil ou mais difícil que ser empresário? Como você lida com isso?
Ser influenciador é mais leve do que ser empresário, mas ambos exigem muita responsabilidade. Como influencer, posso brincar e me divertir um pouco mais, mas sei que o que eu falo tem impacto na vida das pessoas.
Já como empresário, as decisões precisam ser muito bem pensadas. Não dá para errar, pois cada escolha afeta a empresa, os caminhões e os funcionários.
Apesar disso, os dois lados me trazem grande satisfação. Nada se compara ao sentimento de encontrar alguém que diz: “Virei caminhoneiro por sua causa”. Saber que estou inspirando pessoas é gratificante. No fim, tanto a influência digital quanto o transporte me proporcionam bons retornos e me fazem feliz.
A história de Mitchel Pellegrini mostra que, com determinação, estratégia e muito trabalho, é possível crescer no setor de transporte rodoviário e conquistar um espaço sólido no mercado. Seja na boleia ou na gestão da sua frota, ele segue inovando e inspirando outros caminhoneiros a darem o próximo passo na profissão.
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