“Mercado brasileiro de caminhões vai dobrar de tamanho nos próximos dez anos e teremos muito mais concorrentes”, diz gerente de caminhões da Volvo

Por: Mauro Cassane

Em entrevista exclusiva ao Portal Brasil Caminhoneiro, Bernardo Fedalto, gerente de caminhões da Linha F da Volvo, analisa o segmento de pesados, fala sobre a briga nos semipesados, e estima que o mercado total de caminhões dobrará de tamanho nos próximos dez anos no Brasil e que, certamente, outras marcas chegarão acirrando fortemente a concorrência. Quem ganha com isso são os consumidores que terão caminhões cada vez mais modernos e com preços mais acessíveis.

– No segmento de pesados a Volvo foi uma das marcas que mais cresceu no mercado neste ano em comparação com o ano passado. A que podemos creditar este crescimento?

R: Atingimos a liderança no segmento de pesados e isso se deveu, basicamente, ao bom desempenho de nossos produtos no mercado, especialmente por conta de nossa caixa automatizada I Shift. Também devemos dar crédito à nossa rede de concessionárias que está muito mais atuante em todo o País. Outro ponto importante é que aumentamos nossa capacidade de produção e temos condições de dar respostas rápidas às demandas do mercado brasileiro. Atualmente estamos produzindo 107 caminhões por dia.

– O que há de especial na caixa I-Shift?

R: Até o ano passado tínhamos a caixa automatizada mais moderna do mercado nacional, uma caixa que oferece economia de combustível de até 5%. Nossos concorrentes lançaram agora caixas mais modernas, por conta da nova motorização para atender a Euro 5, mas mesmo assim nossa caixa ainda é, tecnicamente, a mais moderna e eficiente do mercado. Tanto é assim que 70% de nossas vendas de pesados são caminhões equipados com estas caixas.

– O senhor acredita que a demanda por caminhões equipados com caixas automatizadas vai crescer nos próximos anos? É uma nova tendência, como já acontece na Europa?

R: Com certeza. O valor de uma caixa automatizada é de 15 a 20 mil reais, considerando também o ABS. O mercado já entendeu os benefícios financeiros de contar com este equipamento: o caminhão rende mais, se torna bem mais econômico. Acreditamos que, para os novos caminhões com motorização Euro 5, quase 100% dos nossos pedidos serão de caminhões com estas caixas.

– No segmento fora de estrada já é uma realidade a caixa automatizada. E seus concorrentes estão na vantagem pois já têm produtos para atendê-los.

R: Estamos atentos a estes segmentos, especialmente mineração. Mas ainda não temos nosso caminhão fora de estrada com caixa automatizada. Focamos no desenvolvimento do câmbio I Shift que atende de maneira excelente o segmento rodoviário. Optamos por fazer o melhor primeiro neste segmento para, em seguida, fazer o mesmo com o segmento fora de estrada.

– Nos semipesados a Volvo também vem crescendo com seus caminhões VM e agora tem a companhia de sua concorrente mais familiar, a Scania. Alguma estratégia específica para não perder mercado para esta nova concorrência?

R: Temos apenas 9% deste segmento e certamente as marcas que detém as maiores participações vão perder mais com novos concorrentes. Neste segmento específico queremos crescer de maneira planejada, mas constantemente, oferecendo um produto premium.

– O senhor arriscaria um palpite sobre o tamanho do mercado nacional de caminhões no final desta década (2020)?

R: Acredito que o mercado de caminhão vá dobrar de tamanho nos próximos dez anos. Certamente a produção industrial e agrícola vai crescer muito vigorosamente no Brasil. Além de tudo há, reconhecidamente, uma demanda reprimida por caminhões no País. O que ainda inibe este crescimento é a infraestrutura, temos muitos gargalos nesta área que devem ser sanados para não ser um limitador do crescimento.

– Alguns analistas do setor previram uma grande movimentação neste segundo semestre para compra de caminhões novos devido à antecipação de compras, por conta da nova legislação ambiental, que vai elevar os preços dos caminhões no ano que vem.  Até setembro, este movimento não aconteceu, pelo contrário, no mês passado houve queda geral nas vendas de caminhões. Qual a sua leitura sobre o atual momento deste mercado?

R: A pré-compra está acontecendo, mas é lenta e regionalizada. Em São Paulo, por exemplo, está mais acelerada. O mesmo não acontece nos estados do Nordeste e Centro-Oeste. No Sul já observamos movimentações e pedidos acima do normal. Quem mais antecipa compra, no momento, são grandes transportadores. Contudo, não será algo de grande volume. É preciso lembrar que o aumento no preço final do produto será, em média, no caso dos veículos pesados e extra-pesados, de 8%. Não é nada assombroso tendo em vista o benefício dos novos caminhões que certamente serão bem mais econômicos e modernos. Quem fizer as contas, principalmente se contabilizar o valor de revenda, vai notar que não é preciso correr para comprar um veículo novo agora se vai precisar dele para renovar sua frota só em meados do ano que vem. É melhor e mais aconselhável comprar o caminhão 2012 com motorização Euro 5.

– Há rumores de que teremos uma grande retração no mercado de caminhões no ano que vem em função dos aumentos de preço por conta da nova motorização e também por conta de reflexos de uma nova crise mundial. O senhor acredita que isto possa, de fato, acontecer?

R: Por conta do aumento de preço, com certeza não. Os benefícios tecnológicos dos novos caminhões os tornarão bem mais rentáveis e o transportador faz estes cálculos. É possível sim uma pequena retração no mercado no primeiro bimestre, mas é algo natural nesta época do ano. De resto, com a estabilidade econômica e boas perspectivas no crescimento agrícola e industrial, certamente que teremos uma forte demanda por caminhões.

– E a crise mundial ?

R: Não é possível fazer qualquer tipo de previsão neste seara, mas entendemos que o Brasil reúne uma série de indicadores positivos de que teremos crescimento do PIB, ainda que não na velocidade esperada.

– A chegada de caminhões chineses importados, com preços inferiores, mesmo com o aumento de 30% , incomoda?

R: Os chineses estão nos grandes mercados mundiais onde também atuamos, portanto estamos bem habituados a concorrer com eles. Respeitamos e conhecemos o potencial destas novas marcas. É muito prematuro fazer qualquer avaliação. Temos que esperar para ver como o mercado vai se comportar. É preciso testar a durabilidade e desempenho dos novos produtos que estão chegando e, fundamentalmente, a eficiência da rede de concessionárias.

– E qual será a estratégia da Volvo para enfrentar a concorrência de caminhões mais premium que chegarão ao mercado brasileiro como MAN e DAF?

R: São marcas de grande prestígio que também enfrentamos concorrência severa em outros mercados, como na Europa. Não há problema algum com esta concorrência. Além de tudo, já esperávamos, afinal de contas o mercado nacional está crescendo substancialmente. É provável que outras marcas aportem por aqui à medida que o mercado se mostre cada vez atraente.

– Recentemente a Volvo anunciou o caminhão com potência de 750 cv, a marca também tem caminhões com tecnologia de vanguarda voltada para segurança. O mercado nacional está preparado para adquirir, em grandes volumes, caminhões com este nível de sofisticação?

R: Temos como filosofia antecipar tendências tecnológicas. Acreditamos que seja um diferencial da Volvo no mundo todo. O mercado brasileiro de caminhões pesados está em franca expansão e se tornando cada vez mais profissional. A demanda por caminhões com esta sofisticação ainda não é significativa, mas quando um empresário pensa em um caminhão de ponta, pensa em nossos produtos. Isso é importante. Lembrando que a potência de 750 cv ainda não está disponível para o Brasil.

Foto: Divulgação Volvo

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