Ford vai incomodar concorrentes diretos com dois novos extrapesados dotados de tecnologia e preços mais em conta

Mauro Cassane, editor-chefe do Portal Brasil Caminhoneiro
De São Pedro do Atacama, Chile

Depois de anunciar a novidade na Fenatran de 2011, e apresentar o produto com portas fechadas em alguns eventos deste ano, a Ford finalmente mostra dois caminhões que botam a marca, de agora em diante, no restrito panteão das fabricantes de veículos comerciais “full range” ou seja, com atuação em todos os segmentos.

Os dois cavalos-mecânicos extrapesados Cargo 2042 4×2 e Cargo 2842 6×2 são as armas da Ford para brigar no segmento mais disputado e, também, o que mais cresceu nos últimos dez anos: os extrapesados. Considerando, ainda, as picapes Courier e Ranger, daqui para frente veículos da marca americana podem transportar de 500 quilos até 56 toneladas. Sem dúvida, entre as fabricantes de caminhões, é a empresa que oferece a maior gama de produtos destinados a transportar cargas.

O tão aguardado lançamento aconteceu em pleno Deserto do Atacama, o mais seco e inóspito do mundo, na cidade de São Pedro do Atacama, no Chile. O caminhão, que já está em franca produção na planta de São Bernardo do Campo (SP), será comercializado, nas Américas, por enquanto apenas no Brasil. Mas Europa e Oriente Médio já têm o novo pesadão da Ford rodando por suas estradas.
O lançamento, com demonstração dinâmica, tanto para a imprensa especializada como para donos e executivos de toda rede de concessionários da marca, “teve o deserto como cenário para valorizar não só o visual mas, essencialmente, as qualidades técnicas do produto em um lugar pouco amigável para veículos comerciais”, explicou Guy Rodrigues, diretor de Operações da Ford Caminhões para América do Sul.

Rodrigues acredita em uma expansão ainda maior do segmento de extrapesados no Brasil nos próximos anos em função das grandes obras de infraestrutura em andamento e, também, pelo crescimento do PIB impulsionado pela expectativa de uma nova sucessão de recordes nas próximas safras agrícolas. “A demanda por veículos que transportam grandes quantidades de carga tende a crescer significativamente no Brasil até o final desta década e estes empresários buscam veículos com muita tecnologia embarcada para conseguir alta eficiência operacional”.

Para passar a atuar neste negócio de “gente grande” a Ford investiu parte dos recursos de 670 milhões de dólares definidos em 2009 no desenvolvimento destes dois produtos, fez um projeto verdadeiramente global, com integração dos centros de engenharia no Brasil e na Turquia, botou os protótipos para rodar em mais de um milhão de quilômetros nas mais diversas situações de terreno, clima e temperatura (foram feitos testes em pistas congeladas na Suécia, nos desertos escaldantes de areia da Arábia Saudita e, naturalmente, nas duras condições das estradas brasileiras “com e sem pavimento”, diz Rodrigues.

O resultado de tanto esforço de engenharia é visível na prática. O caminhão nasce bom. Não é um experimento que carece observação do mercado. Já foi cuidadosamente concebido na medida certa para atender as maiores necessidades deste segmento: robustez, força, potência, conforto e elegância nas formas. Ficou muito para trás o tempo que caminhão era chamado de bruto. Cada vez mais os caminhões, especialmente extrapesados, esbanjam sofisticação de design e tecnologia de ponta.

As formas respeitam as linhas da família Novo Cargo, mas o pessoal de design da Ford de Camaçari se esmerou para dar ao pesadão uma cara respeitável para não fazer feio na hora de estar lado a lado com seus concorrentes diretos pelos pátios das transportadores e postos por todo Brasil afora. “Nossa ideia foi transmitir poder e personalidade”, comenta João Marcos Ramos, chefe de Design da fabricante. E a ideia deu muito certo. O novo Ford tem mesmo cara de um genuíno pesadão estradeiro.

As partes que não ficam à vista, mas são as mais sentidas, já são consagradas no Brasil e no mundo. O motor FPT, de 10.3 litros e 6 cilindros entrega 420 cv de potência a 1.900 Nm de torque. Inédito no Brasil em caminhões desta categoria, pois é do tipo “downsizing” – engenhos mais compactos capazes de desenvolver altas potências. A vantagem, de cara, é bem clara: menos peso habilita o caminhão para carregar mais carga sem transgredir a Lei da Balança.

Trata-se de um motor leve e compacto, capaz de gerar a mesma potência de engenhos de cilindrada maior, com eficiência energética, desempenho e economia. Para isso, conta com o uso intensivo de tecnologia de ponta e soluções inovadoras de projeto. Uma delas é a turbina de geometria variável (TGV) com “aftercooler”, que adequa a pressão do turbo às necessidades de torque e potência. Assim, gera mais força em baixas rotações e melhora o desempenho, aumentando também a vida útil e a economia de combustível.

O uso extensivo de componentes de materiais nobres e de alta tecnologia, como alumínio, titânio, polímeros e outras ligas leves, é outro avanço que aumenta a robustez, a eficiência e a confiabilidade do motor. A estrutura resistente também torna o seu funcionamento mais silencioso, reduzindo o nível de ruído interno na cabina. “Tudo isso se traduz em um motor muito eficiente, que oferece excelente desempenho, alta durabilidade e baixo nível de consumo e emissões”, diz Guilherme Teles, supervisor de Engenharia da Ford.

A transmissão automatizada é bem conhecida e respeitada: AS-Tronic, da ZF, que, para este produto especificamente, foi desenvolvida para oferecer 12 velocidades. Fácil de operar, sem trancos e contra barbeiragens (se errar a marcha no modo manual o sistema automaticamente conserta para a marcha correta), esta transmissão permite escolher dois modos de troca: automático ou manual por meio da alavanca tipo “joystick” no console.

O eixo traseiro dos caminhões da Ford também é de grife: trata-se do modelo MS 18X da Meritor, soldado a laser na fixação da caixa do diferencial, que aumenta a robustez e a capacidade de carga da estrutura.

Fácil de dirigir

Os novos Ford Carga 2042 e 2842 são, positivamente, fáceis de dirigir. Andamos, no retão do Deserto de Atacama, no modelo mais estradeiro, o Cargo 2842 6×2 com lastro de 20 toneladas. O veículo é equilibrado em todos os sentidos. Logo ao abrir a porta vale o destaque da solução para evitar roubo que protege a escadaria de entrada com a porta fechada. O banco, confortável, se ajusta perfeitamente à sua altura com regulagens para cima, para baixo, para frente e para trás.

O motor, mesmo quando chamado às altas rotações, bota a cavalaria toda para trabalhar em silêncio. Acelerando mais fundo, as respostas são rápidas, e mantendo o caminhão na rotação econômica (faixa verde) de até 1.600 giros, o caminhão retoma facilmente a velocidade e a mantém, com rapidez, sem grandes esforços e, o que é mais importante, sem sair da faixa econômica. Os quatro pontos de suspensão da cabina funcionam bem e absorvem grande parte dos impactos poupando tanto condutor quanto carona. O que se ouve, ao acelerar mais pesadamente, é o agradável som da turbina.

A transmissão AS-Tronic merece destaque pois torna a direção muito fácil. No modo automático, a troca de marchas é feita pela central eletrônica. Ou seja, o motorista não precisa ficar de olho no tacômetro e mantém as mãos sempre ao volante e a atenção na estrada, aumentando a segurança e o conforto nas viagens. E com um toque sutil na alavanca, para a direita, você pode fazer a condução ao seu modo, manualmente. Mas, ainda assim, se por distração chamar uma marcha errada, o sistema entende seu “erro”, e bota na certa considerando parâmetros como rotação e velocidade.

O modo manual conta com o Seletor Inteligente (“S”), que proporciona agilidade nas trocas e ajuda o motorista a utilizar as marchas corretamente, contribuindo para a economia de combustível. Se encarar uma subida com a alavanca na posição “S”, por exemplo, o sistema seleciona automaticamente a marcha correta para otimizar a tração e o consumo de combustível. Nas descidas, engata a marcha indicada para reduzir a velocidade e auxiliar na frenagem.

Outro recurso da nova transmissão é o modo de manobra, que mantém a velocidade extremamente lenta e ajuda o motorista a estacionar a carreta em espaços reduzidos. Ele atua tanto no modo automático como no manual, para manobras à frente (DM) ou à ré (RM) e libera apenas a potência necessária para o deslocamento do veículo, evitando trepidações e desconforto.

O controle automático de velocidade é outro recurso que aumenta o conforto e a eficiência dos novos Cargo extrapesados. Ele mantém o veículo em velocidade constante em percursos rodoviários sem que o motorista precise pisar no acelerador e ajuda a economizar combustível. Tudo isso é facilmente controlado na alavanca que aciona tanto o piloto automático quanto o freio motor.
Para programar a velocidade desejada, basta acelerar e acionar a alavanca. O sistema então assume o comando do acelerador.

Movendo-se a alavanca para frente ou para trás, a velocidade aumenta ou diminui. Quando o motorista pisa no acelerador ou no freio, o controle manual é cancelado e o sistema inteligente retoma o controle.

Conclusões

A Ford deu o primeiro passo para entrar no segmento mais competitivo, e rentável, do mercado nacional de caminhões. Por ora, são apenas dois produtos. Muitos outros, por certo, terão que vir. No cardápio atual, por exemplo, nem consta os tão requisitados caminhões com tração 6×4, muito apropriados para as composições rodotrem e bitrem. Os atuais modelos também não são produtos para brigar com marcas que já oferecem os conhecidos extrapesados “Premium” como Scania, Volvo, MAN, Iveco e, em breve, a DAF.

Mas os novos pesadões da Ford, por seus atributos técnicos muitas vezes só encontrados em veículos “Premium”, e com preços de caminhões de entrada (R$ 260.900,00 a versão 4×2 e R$ 294.900,00 a versão 6×2) podem incomodar demasiadamente seus concorrentes diretos na mesma faixa de preço e que costumam aparecer como os mais vendidos da categoria: VW Constellation 19.390 4×2 (R$ 278.000,00) ou o VW Constellation 25.390 6×2 (R$ 296.000,00). Já os concorrentes como o Mercedes-Benz Axor 2041 4×2 e Axor 2541 6×2, assim como Volvo FM 370 4×2 e 6×2 praticam valores acima de R$ 320.000,00.

Em termos de rede de concessionárias, que assegura um bom serviço de pós-venda, a Ford não deve nada a seus concorrentes. Tem uma rede bem estruturada por todo o Brasil com 140 casas “e temos mais inaugurações programadas para este ano”, diz. A briga nos extrapesados, com certeza, agora ganhou um competidor de peso.

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