Iveco mostra caminhão do futuro e International apresenta lançamento que fará em 2013

por Mauro Cassane
Editor do Portal

Mesmo com o Brasil sendo um dos mais importantes mercados do mundo para muitas das montadoras aqui instaladas, apenas duas marcas, e com participação ainda pequena no mercado, aproveitaram a Fenatran para fazer um exercício futurista sobre o transporte rodoviário de carga e apresentar caminhões-conceito: Iveco e International.

A Iveco apresentou o Glider, um veículo surpreendente em tudo, desde o visual, inspirado em elementos da natureza, como a aerodinâmica da águia, até soluções ergonômicas que revolucionam o jeito de dirigir um caminhão. Já a International optou por não ir tão longe no futuro e mostrou o modelo batizado de AeroStar, um caminhão mais conceitual, fruto de um esforço conjunto entre sua engenharia do Brasil e dos Estados Unidos.

O Glider, que fez sucesso com o público do Salão Internacional de Transporte de Hannover, na Alemanha, no ano passado, e agora chama atenção na Fenatran, não tem ainda previsão de quando tanta tecnologia estará rodando pelas estradas. Já o AeroStar, que é praticamente uma avant-première de um novo produto, chegará, conforme promessa da própria International, em 2013.

Frente do AeroStar

Há, por certo, uma imensa diferença entre estes dois produtos. O Glider parece mesmo um caminhão saído daqueles filmes do tipo Blade Runner. Já o AeroStar está mais alinhado com as tendências atuais, muitas delas em prática, em linha e já à venda. A International não adianta muita coisa sobre o produto, nem o mostra internamente, mas é fácil entender que é um veículo que pode substituir seus parrudos 9800i.

Powertrain da International: MaxxForce 13, motor da MWM

Enquanto o público da Fenatran se impressiona com as linhas futuristas do Glider, especialmente pelo fato de não ter retrovisores (substituídos por microcâmeras digitais), os dois modelos AeroStar da International são ofuscados pelo brilho estelar de um modelo que não tem nada de futurista: o LoneStar, o legítimo defensor do estilo americano de “ser” caminhão. Aquele bicudão vistoso que, em vez do leito na cabina, leva, literalmente, uma casa atrás do banco do motorista.

Projeto feito a 4 mãos por engenheiros brasileiros e norte-americanos

Já que a International não adiantou muita coisa de seu caminhão-conceito, exceto que será vendido daqui a dois anos, falemos, então, do Glider, e a única coisa que não sabemos é quando será realidade. De acordo com os engenheiros da Iveco este modelo futurista reúne um conjunto de soluções tecnológicas que permitem redução de consumo de combustível e de emissão de poluentes em até 40%.

Glider

O caminhão permite lançar um novo olhar às condições de conforto e bem-estar do motorista e acompanhante, transformando a cabine em uma combinação bem-sucedida de caminhão-escritório-casa. O resultado é um veículo que se apresenta como um “laboratório” de eficiência e habitabilidade.

Segundo o criador do Iveco Glider, Giandomenico Fioretti, chefe de inovação tecnológica da Iveco, e que esteve presente na Fenatran, o ponto de partida foi uma constatação feita pelo pintor e inventor renascentista italiano Leonardo da Vinci, que disse que “embora a genialidade humana produza muitas invenções, elas nunca serão melhores, mais simples ou mais consistentes que aquelas da natureza, porque às invenções da natureza nada falta e nada é supérfluo”. A simplicidade, portanto, está na raiz das ideias do Iveco Glider.

“A fonte de inspiração foi a natureza, partindo da águia, a mais perfeita criatura voadora, que tira maior proveito das correntes de ar com mínimo movimento das asas”, diz Fioretti. “Da águia imaginamos uma metamorfose ideal para um planador (glider, em inglês), outro objeto que corta o ar eficientemente e, finalmente, no veículo em si, o Iveco Glider, que busca pela maior produtividade com um mínimo de externalidades”, completa o chefe de inovação da Iveco.

Trocando em miúdos, o que o engenheiro Fioretti quis é um caminhão com maior coeficiente de penetração aerodinâmica (Cx), ou seja, melhor aerodinâmica que se traduz em mais velocidade com menor consumo de combustível. No caso do Glider, esta economia pode ser de até 7% se o compararmos aos caminhões pesados cara-chata que estão pelas estradas do mundo.

Uma mudança bastante perceptível está na grade dianteira. As entradas de ar podem ser fechadas com venezianas, automaticamente, em caso de temperatura ideal do motor, melhorando a aerodinâmica do veículo. Menos visível, mas igualmente importante, é um fechamento de toda a parte inferior do cavalo mecânico, ao estilo de um carro de Fórmula 1, que escoa o ar por debaixo do veículo sem turbulência.

Glider

Ainda na parte aerodinâmica, está a quinta roda com ajuste longitudinal automático. Quando o veículo está em alta velocidade e em linha reta, ela traz o implemento (um baú, por exemplo) mais próximo do caminhão, praticamente juntando os elementos e impedindo a formação da área de turbulência atrás da cabine. Sensores de velocidade e de posicionamento do volante/rodas fazem com que a quinta roda se afaste da cabine no caso do veículo iniciar uma curva. Pneus de baixa resistência de rolagem são outra novidade e, sozinhos, podem economizar até 5% de combustível.

Foto: Fábio Rogério

A estética não foi deixada de lado. Afinal de contas, caminhão futurista tem que ser, também, bonito. A frente é um ponto de referência, juntando elementos tradicionais da linha Iveco atual e indicando caminhos novos para sua evolução, como os faróis em LED (que consomem menos energia) e formato de “olho de águia” – estilo que se repete nas lanternas traseiras. As laterais são “esculpidas” com linhas onduladas que se integram de forma perfeita aos aerofólios laterais e superiores. O defletor de ar do entreeixos, com sulcos pronunciados, completa o visual futurista.

Faróis em LED do Glider

Uma forma simples que os inventores do Iveco Glider utilizaram para gerar grande economia de combustível é a recuperação da energia cinética e térmica do veículo. Um caminhão extrapesado gera enormes quantidades de energia quando em fase de frenagem. Assim, a exemplo dos carros de Fórmula 1, um sistema tipo KERS (Kinectic Energy Recovery System) foi empregado junto ao sistema de freios. Outra forma de recuperar energia é usar o excedente de calor produzido pelo motor, através de um sistema de troca de temperatura.

Um acumulador de eletricidade de até 10 kW é empregado para estocar a geração de energia e aplicá-la em auxílio ao motor diesel, quando necessário. Em saídas em rampa, por exemplo. Ou numa tomada de força. Um sistema assim pode gerar economia de até 19% no consumo do óleo diesel.

O Iveco Glider é um caminhão grande e tem superfícies extensas expostas ao sol. Assim, o time de inovação da Iveco instalou sobre a cobertura da cabine cerca de dois metros quadrados de células fotovoltaicas de última geração, capazes de gerar até 2 kW de energia elétrica por dia, suficientes para alimentar todos os sistemas elétricos e eletrônicos da cabine (ar-condicionado, sistema de som, luzes, etc.). Mais 1% de economia de diesel projetada.

Essa economia vem do fato de que, ao se retirar do motor diesel a necessidade de gerar energia elétrica, foi possível eliminar também as diversas polias e correias normalmente encontradas num motor desse tipo, ligadas a geradores, compressores, etc. A inexistência desses elementos pode aumentar em até 5% a eficiência energética em um motor diesel normal. E há ainda a possibilidade de maiores ganhos pois, somadas todas as eficiências obtidas no campo energético, pode-se optar pela utilização de um motor de menor cilindrada para cumprir a tarefa de um motor maior, mas menos eficiente.

Veículo-Escritório-Casa

“O homem é parte da natureza e integrante da equação caminhão-transporte. Assim, não poderíamos deixar de olhar para seu conforto, segurança e bem-estar num projeto da natureza”, explica Fioretti ao detalhar muitas das novidades que se encontram dentro da cabine do Iveco Glider. Uma dessas características é a configurabilidade, podendo ser caminhão, escritório e casa para seus ocupantes. “O homem foi colocado no centro do projeto da cabine do Iveco Glider”.

Para começar, o piso é completamente plano. Os bancos são anatômicos e, além de serem regulados em distância e altura, podem girar sobre seu eixo para o interior da cabine, ajustando-se assim ao ambiente, quando o veículo estiver parado. Pode, por exemplo, virar uma poltrona confortável. Por detrás do painel, fica guardada uma mesa dobrável que, quando montada, transforma o interior numa sala de estar ou num escritório.

O volante pode ser regulado em várias direções e, quando isso acontece, o painel de instrumentos acompanha o movimento, garantindo assim a ótima visibilidade em qualquer circunstância. O volante ainda tem a parte central fixa, com diversas teclas de controle. Uma delas é o botão do pisca-alerta: pode ser acionado em caso de emergência sem que o motorista tenha de afastar as mãos da direção.

Na parte central do painel, encontra-se um monitor de 15 polegadas, que, na condição “caminhão”, reúne diversas informações úteis ao motorista. Com o veículo parado, ele pode ser destacado do painel e transforma-se num computador para o trabalho ou, à noite, em um módulo de entretenimento, como plataforma de games. As camas (um beliche) têm altura regulável e são totalmente dobráveis, mantendo a cabine sempre espaçosa. O sistema de som 3D é direcional.

O ar-condicionado não tem saídas tradicionais. Ele funciona, na verdade, por todo o painel traseiro da cabine, feito em material que permite a troca de calor e umidade de forma equalizada por todo o espaço interno. As luzes internas são um show à parte. Utilizando-se do conceito da cromoterapia, elas mudam de cor para realçar a sensação de conforto dos ocupantes. Pode ficar azul nos dias de calor (para aumentar a impressão de resfriamento) ou laranja nos dias de frio (que dá a sensação de maior temperatura ambiente).

Por fim, há um módulo cozinha que é uma obra-prima compacta, utilizando-se das mais modernas tecnologias disponíveis no mercado da habitação hoje para acomodar um fogão elétrico, geladeira e pia. “O Iveco Glider, assim, permite que o motorista e acompanhante possam viver ao máximo os confortos de uma casa sem sair do caminhão”, afirma Fioretti.

Fotos: Divulgação

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