“Fiz meus testes, o treinamento, e hoje tiro de letra”, diz Elaine Cotrim

Mês da Mulher
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Elaine conduz o ônibus da linha 669A-10, em São Paulo (SP)

Elaine Cristina Cotrim faz parte dos 30 mil motoristas do Sistema de Transporte Urbano de São Paulo (Foto: arquivo pessoal)
Elaine Cristina Cotrim faz parte dos 30 mil motoristas do Sistema de Transporte Urbano de São Paulo (Fotos: arquivo pessoal)

De personalidade forte, Elaine Cristina Cotrim, 41, representa as mulheres que vêm ganhando espaço no ramo de transporte. Atualmente, ela faz parte dos 30 mil motoristas do Sistema de Transporte Urbano de São Paulo. Desse total, 10% são mulheres, segundo a SP Urbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo).

Da catraca para o volante

Elaine trabalhava como camelô, ou como ela gosta de falar, “eu era mil e uma utilidades. Fazia artesanato e comprava roupas para revender”. Foi em 2011 que surgiu a oportunidade de trabalhar como cobradora, cargo que ocupou por um ano, tempo necessário para criar coragem e assumir o volante do ônibus.

“Eu via aquele ônibus grandão e imaginava que não tinha capacidade para dirigir. Mas graças a Deus eu sou assim: quando eu ponho alguma coisa na cabeça, eu quero, eu quero, eu quero! Sou bem determinada. Eu pus na minha cabeça que eu queria mudar minha carta e que eu ia ser motorista de ônibus. Com muitos altos e baixos fiz meus testes, o treinamento, e hoje tiro de letra. Eu me sinto, não desmerecendo ninguém, a melhor”, declara orgulhosa.

Lutas do dia a dia

Elaine conduz o ônibus da linha 669A-10, percurso Terminal Santo Amaro – Terminal Princesa Isabel, e histórias não faltam. “Eu faço uma linha extensa e pesada. Um dia parei o ônibus para embarcar um rapaz na Avenida Paulista. Ele veio correndo e quando chegou na porta, olhou assustado e falou: ‘Nossa, é mulher!’ Todos no ônibus começaram a rir, não entenderam o que estava acontecendo e começaram a comentar como a atitude dele era preconceituosa. Preconceito a gente sempre sofre, mas hoje eu não ligo mais”, afirma.

Registro do treinamento para conduzir ônibus articulado
Registro do treinamento para conduzir ônibus articulado

Da cabine para a boleia?

Quando questionada sobre a possibilidade de dirigir um caminhão, Elaine se anima, mas ao mesmo tempo desiste da ideia. “Quando eu era pequena, sempre sonhava com um Scania vermelhão, com aquela cama bonita dentro da cabine só pra mim, bem lindão, que eu chegasse e todo mundo soubesse que eu estava chegando naquele caminhão. Claro que eu já tive vontade, mas acho que eu não tenho coragem, eu tenho medo”, se diverte.

Ser mulher e motorista

“Ser motorista na cidade de São Paulo é o máximo! Eu incentivo a mulherada a passar para motorista. A minha ex-cobradora é motorista atualmente, e eu me sinto orgulhosa por ela ter chegado lá de tanto que eu a incentivei”, afirma. E o poder da mulherada não para aí. Elaine, além de apaixonada pela carreira, mostra que o cuidado nas ruas é um ponto positivo para elas.

“A mulher é cuidadosa, atenciosa. Se tem um buraco no asfalto, eu tento passar para o outro lado para não bater o ônibus, não quebrar. Eu fico muito preocupada com isso.”

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Gratidão

Apesar dos perrengues, o amor pela carreira e a possibilidade de estar na direção de um ônibus são resumidos por Elaine em um sentimento: gratidão. “Eu sou feliz e agradeço a Deus e à empresa por ter me dado a oportunidade de hoje ser motorista. Todos os dias a gente aprende um pouquinho e eu gosto disso”, afirma.

E é com esse aprendizado que Elaine não deixa a peteca cair e segue incentivando outras mulheres, mostrando seu profissionalismo e correndo atrás dos seus sonhos. “Meu treinador me ensinou uma frase que é: mostre a que veio! Esse é o meu lema! Mostre a que veio, pois quando a gente quer alguma coisa, a gente tem que correr atrás e lutar pelo que a gente quer, e eu amo dirigir!”, finaliza, emocionada.

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