Brasil é uma potência agrícola mundial que cresce sem planejamento

por Fábio Rogério
da Redação do Portal

Gigante pela própria natureza. E só. Este poderia ser o lema do Brasil, que com um planejamento zero nas esferas pública e privada viu sua produção de grãos crescer um percentual admirável de 114% nos últimos 20 anos sem investimentos vultosos na infraestrutura do País. Enquanto em 1991, 38 milhões de hectares entregavam 58 milhões de commodities agrícolas (soja, milho, etc.), em 2011 os 50 milhões de hectares cultiváveis serão responsáveis pela produção de 163 milhões de grãos.

“O Brasil tem 851 milhões de hectares de terras, sendo que só 8,5% (72 milhões) são efetivamente utilizados. Além disso, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estima que, neste momento, temos 85 milhões de hectares de terras cultiváveis que já poderiam ser trabalhadas”, disse Roberto Rodrigues, engenheiro agrônomo e agricultor que na tarde de ontem (23/11) abordou o tema “Visão Estratégica do Brasil – Foco agrobusiness”, no XXI Congresso Fenabrave, evento voltado para o setor de distribuição automotiva, em São Paulo/SP.

Rodrigues foi ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento durante o Governo Lula, entre 2003 e 2006, e hoje divide seu tempo entre aulas de Economia Rural na Unesp, coordenação do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e a presidência do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Inquieto, deixa claro em seu discurso que o Brasil, mesmo tendo vocação para ser protagonista no cenário mundial agrícola, ainda deve percorrer um longo caminho para se profissionalizar.

Segundo o ex-ministro, nos próximos 10 anos a produção global de alimentos precisará crescer 20% para atender à demanda mundial por alimentos. “Isto ocorrerá porque a população no planeta, que hoje está quase chegando a marca de 7 bilhões, em 2050 estará com 9 bilhões. E o Brasil poderá ser responsável por 40% da alimentação de todo o mundo”, acrescenta.

“Faltam lideranças globais no mundo de hoje. A expectativa que recaía sobre o presidente norte-americano Barack Obama já sumiu, e a Europa passa por muitas dificuldades econômicas. A humanidade precisa de um projeto empolgante”, comenta Rodrigues.

E no meio deste cenário, o Brasil, que conta com os melhores recursos naturais para ser uma potência agrícola, ainda não encontrou um projeto que o leve com segurança para a liderança global.

“A Agroenergia será responsável por uma nova geopolítica mundial, que se formará nos países localizados entre os trópicos. O Brasil pode ser o primeiro neste ranking. Hoje, o Agronegócio representa 22% (US$ 467 bilhões) do Produto Interno Bruto brasileiro, sendo responsável ainda por 37% dos empregos e 30% das exportações do País. E para 2020, a expectativa é que as exportações atinjam o patamar de 35%. E repito: Chegamos a tudo isso sem nenhum planejamento”, destacou o palestrante.

Ao final da palestra, Roberto Rodrigues destacou que o brasileiro precisa mudar seu conceito sobre o Agronegócio: “Infelizmente, a opinião pública urbana no Brasil não enxerga que o Brasil é Agro. Se ela pensasse assim, cobraria muito mais a nossa classe política. E o Agronegócio precisa de uma ‘institucionalização’, necessita que o setor público tome à frente no planejamento do setor e guie projetos que sejam perenes”.

Foto: Fábio Rogério

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