Falta de chuvas há dois meses e possibilidade de redução do nível dos reservatórios ameaçam transportadores e podem paralisar navegação na Tietê-Paraná.
Assolada por uma interdição que durou 20 meses entre 2014 e 2016, a hidrovia Tietê-Paraná corre risco de ter suas atividades paralisadas neste ano. Os motivos envolvem uma combinação de dois fatores: a falta de chuvas há dois meses associada à possibilidade de que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) decida rebaixar o nível do reservatório das usinas de Ilha Solteira e de Três Irmãos, principais geradoras de energia na região, o que comprometeria a navegação e o transporte de produtos como soja, farelo de soja e cana de açúcar na hidrovia.
A equação “geração de energia X navegação” funciona da seguinte maneira: os reservatórios precisam de água para produzir energia; sem chuvas, a solução é utilizar mais água do rio para garantir a quantidade mínima no reservatório das usinas. Ocorre, entretanto, que isso causa impacto no nível dos rios e, consequentemente, redução no volume máximo que pode ser transportado nas embarcações.
Consequências
Representantes do setor aquaviário dizem que o limite mínimo possível dos reservatórios seria de 325,4 metros em relação ao nível do mar. Uma queda abaixo desse limite, ainda que favoreça a geração de energia, compromete a navegação. No último dia 19, por exemplo, de acordo com dados do Sindasp (Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial de São Paulo), o nível do reservatório de Ilha Solteira estava em 327,4 metros acima do nível do mar. Esse volume permite que os navios operem com um calado de 3 m de profundidade na hidrovia.
Mas a falta de chuvas já levou os transportadores a optarem por um calado de 2,80 m a partir desta quarta-feira (25). Isso significa que as embarcações estão transportando menos mercadorias. “Nosso maior medo é que uma sobrecarga em Ilha Solteira e Três Irmãos comprometa os reservatórios de Bariri, Ibitinga e Barra Bonita, localizados ao longo da hidrovia. Por isso, entramos em acordo com as empresas para reduzir o calado dos navios em 0,20 cm. Com isso, mantemos a água nos reservatórios e garantimos a navegação”, explica o presidente do sindicato, Luizio Rizzo. Até junho deste ano, 1,5 milhão de toneladas já foram transportadas na Tietê-Paraná.
Entre 2014 e 2016, a paralisação da hidrovia Tietê-Paraná, que durou 20 meses, causou prejuízo estimado de R$ 1 bilhão às empresas de navegação. Cerca de 1.600 pessoas perderam o emprego.