Dúvidas com o Euro 5 e desconfiança com chineses

Por Evelyn Haas
da Redação do Portal

O Salão Internacional do Transporte é a maior feira do setor de carga e logística da América Latina que aconteceu entre os dias 24 e 28 de outubro, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo. A cada dois anos empresários da área vão conferir as principais novidades e lançamentos do setor de transportes de carga. Os quase 365 expositores que estiveram no evento puderam apresentar seus produtos aos mais de 50 mil visitantes que circularam pelo Anhembi.

Interessados nas inovações tecnológicas dos principalmente dos implementos e dos caminhões, empresários do segmento registraram suas observações sobre a presença dos chineses nos mais variados estandes e mostram sua angústia com as normas do Euro 5, que já vigora na Europa e será obrigatório no Brasil a partir do próximo ano.

A equipe do Portal Brasil Caminhoneiro entrevistou alguns executivos atuantes nas mais diversas áreas como materiais de construção, mineradoras e distribuidoras, entre outras.

Antônio Pascoal Bortolotto, proprietário da Todimo, empresa matogrossense de matérias de construção presente no mercado há 29 anos, falou que estava na Fenatran para conhecer as novidades. Com um frota de 90 caminhões, renovada recentemente com mais 10 pesados, disse que pretende adquirir em torno de seis caminhões Euro 5.

Mesmo tentado pela beleza dos robustos da International, optou pelos da Iveco. Mas se diz não ser tão fiel assim, pois também trabalha com outras marcas. Quando questionado sobre os chineses, por enquanto, diz que, apesar de positiva sua entrada no mercado brasileiro, só tem empilhadeiras “Made in China” e se mostra satisfeito com elas.

Com 17 lojas pelo Brasil, Arlindo Cavalca Filho, proprietário da Cavalca Construções e Mineração, fundada em 1957 no Paraná, tem um frota de mais de 50 caminhões divididos entre a Iveco e demais marcas (Mercedes, Ford e Volks). O empresário visitou a feira a fim de saber sobre as novas tecnologias e produtos, e até para efetuar futuras aquisições para renovar sua frota, além de uma possível ampliação à curto prazo. Como seu setor está em expansão, chegou a comprar 20 caminhões no primeiro semestre. Acredita que nenhum empresários deve estar fechado a origem das montadoras, mas está cauteloso em relação aos chineses, sem saber como será a rede de assistência e sua adaptação ao mercado brasileiro. Assim como o impacto nos custos de aquisição para o Euro 5.

O pecuarista e também proprietário da distribuidora de bebidas Ambev em Mato Grosso, Nelson Marcon, foi aos estandes para conhecer as novidades e outros fornecedores e se reunir com colegas do ramo para discutir negócios. Entre Volvo, Iveco, Ford e Volks, sua frota de 18 caminhões vai aumentar com mais cinco produtos Iveco. E diz que não pretende comprar Euro 5, prefere esperar o segundo semestre do ano que vem para saber como a distribuição de petróleo. Elogia os produtos chineses, mas se mostra reticente também no serviço pós-venda. Nem mesmo visitou seus estandes dos fabricantes chineses.

Com quase 10 anos de existência, a Frangos Canção Frigorífico, de Maringá/PR, possui hoje um frota de 80 caminhões entre Volvo e Ford. Durante o evento, Rogério Wagner Martini Gonçalves, proprietário da empresa, cotou essas marcas e ainda a Scania, uma vez que sua empresa está em crescimento. Com a mesma opinião dos demais com o Euro 5, se preocupa com o custo do combustível e o desempenho dos novos motores . E o mesmo vale para os chineses: não acredita na qualidade, além de apontar para a linha de crédito mais difícil e rede de assistência.

Luiz Gareschi, da Ouro Verde, de Curitiba, possui atualmente uma frota de 2300 caminhões. Além de se reunir com empresários do ramo, foi à Fenatran para receber o implemento número 3,2 a Randon e ainda fazer negócios. O empresário está receoso com a distribuição do petróleo diante da nova norma do Euro 5, e revela: um pouco antes da entrevista, estava no estande da Sinotruk, e inclusive possui um caminhão da marca chinesa em teste.

Carlos Olmes (o segundo da esquerda para a direita, na imagem acima), diretor executivo comercial da Supricel Logísticas, de Piracicaba/SP, encerra o ano comemorando por ter somado à sua frota de 1,4 caminhões, mais 150 nos modelos Volvo. Quis aproveitar os valores do Euro 3, mesmo com a intenção de renovar sua frota em março e abril do ano que vem já com os pesados Euro 5. Chegou até a passar nos estandes dos chineses, mas assume que não faz parte dos projetos para a empresa.

Adalberto Godoy Baptistella, proprietário da Godoy & Baptistella Transportadora e Logística Baptistella, de Piracicaba/SP, foi à Fenatran especialmente para ver os pesados. Fiel à Scania, vai comprar um R620 e aumentar sua frota dos 120 pesados. Este ano sua empresa renovou com mais 20 caminhões Scania dos modelos G420 6×2. O primeiro caminhão V8 620 cavalos Euro 5, foi vendido para ele. Caso aprovada a operação, pretende comprar mais 20 ou 30. Mesmo com as dificuldades, acredita valer a pena esperar pelo Euro 5, além de colaborar com o meio ambiente. Perante os chineses, crê na eficiência de seus motores e produção de suspensão, mas não se arrisca, prefere aguardar um prazo maior para o sucesso deles.

O proprietário da Transportadora Contatto Atílio Junior, de Limeira/SP, possui sete filiais e está há 47 no mercado. Com 90% da sua frota Scania e 10% das demais marcas, foi ao evento apenas para ver as novidades, uma vez que já tinha feito negócio antes. A aquisição de 45 caminhões foi para aproveitar os o Euro 3. Por trabalhar com longas distâncias, se preocupa com a distribuição do diesel, e até o final da feira não pretendia comprar nenhum modelo Euro 5. A perspectiva com os chineses também é pequena de modo geral, mas considera positiva a competitividade.

Ao fim ao cabo, o que se nota não é uma repudia quanto à estreia dos chineses em terras brasileiras, mas para os empresários eles ainda precisam encontrar seu lugar ao sol tropical

Foto: Divulgação Volvo

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