Falta de motoristas qualificados ajuda na difusão dos automatizados

por Fábio Rogério
da Redação do Portal

Entre os benefícios oferecidos pela tecnologia dos câmbios automatizados, os fabricantes ressaltam a redução significativa no consumo de combustível e o aumento da vida útil de muitas peças e componentes do caminhão. Porém, a falta de mão-de-obra qualificada no transporte brasileiro – leia-se: motoristas bem treinados e com hábitos de direção econômica – é um fator que auxiliou no crescimento da preferência pelos caminhões equipados o novo tipo de câmbio.

Há casos de transportadoras que comentam ter obtido reduções de quase 10% no consumo de diesel com a tecnologia. As fabricantes concordam que é possível atingir esses patamares, porém ressaltam os ganhos extras oferecidos pelos câmbios.

“Você consegue maior durabilidade de embreagem, que pode chegar a durar três vezes mais. Há também menos desgaste nos pneus de tração, pois as trocas são feitas de forma automática, sem tranco na transmissão. E há aumento da vida útil dos pneus em 30%. Tudo isso por conta da tecnologia, ou seja, independente da ação do motorista”, analisa Alvaro Menoncin, gerente de Engenharia de Vendas de Caminhões da Volvo do Brasil.

O gerente da Volvo faz questão de lembrar que, apesar das possibilidades dos automatizados, o caminhoneiro ainda é uma peça fundamental em toda a operação de transporte. “Quanto mais bem treinado e valorizado for o profissional do volante, mesmo com o câmbio automatizado ele vai tirar algo além. Agora, sem um motorista treinado, o equipamento ajuda a fazer correções”, comenta.

Quanto ao argumento de que esse tipo de câmbio encarece desnecessariamente o pesado, Menoncin é enfático: “Em pouco tempo, o investimento se reverte em lucro. Em geral, isto ocorre entre seis e oito meses”.

Em nota, a Sinotruk comentou que “a tecnologia embarcada será útil para compensar a falta de mão-de-obra qualificada já que elimina as trocas erradas de marcha, proporcionando mais economia dos componentes, o que aumenta a vida útil do caminhão”. A empresa oriental pretende lançar seus modelos automatizados em 2012.

Para o engenheiro Marcel do Prado, que atua na área de Portfólio do Produto da Scania, o câmbio oferece uma série de vantagens para o motorista.  “Na mineração, ele tem o conforto de ficar sempre com as duas mãos no volante, e se precisar mudar, a troca de marcha é feita como se fosse dar uma seta”, explica. Nas aplicações fora de estrada, a troca de marcha fica mais suave, sem solavancos, o que aumenta a eficiência do trem de força.

Mas seria o motorista brasileiro resistente ao uso de tecnologia? Caminhoneiros ouvidos pelo Portal Brasil Caminhoneiro e o engenheiro Marcel do Prado garantem que não. “Os benefícios ainda são um pouco desconhecidos. Por isso, trabalhamos junto aos nossos clientes que é possível diminuir o consumo de combustível entre 5% e 10%”, conta Marcel.

Ronaldo Cândido, supervisor da Engenharia – Powertrain da MAN Latin America, acredita que o treinamento dos motoristas ainda será um fator importante para as empresas de transporte conquistarem reduções expressivas de consumo de diesel.

“Uma frota que adote a tecnologia de câmbio automatizado deverá realizar um treinamento de condução econômica, e isto com certeza resultará num desempenho positivo. O motorista da frota com pior resultado em consumo apresentará melhores performances. Quanto aos bons motoristas, estes, com certeza, apresentarão resultados iguais ou superiores aos anteriores”, finaliza Cândido.

Diferenças culturais
Guilherme Ebeling, diretor de Operações Veiculares da NC2 do Brasil, comenta que, nos Estados Unidos, matriz da empresa, o câmbio automatizado está começando a entrar, mas em um volume muito menor do que no Brasil.

“Aqui, o crescimento da demanda foi muito rápido. Nos Estados Unidos, pelas características de mercado e dos motoristas, o câmbio automatizado ainda não tem tanta expressão como aqui. Lá, cerca de 80% da produção é mecanizada. O mercado americano prefere até um câmbio de transmissão não sincronizado. Ainda existe o motorista que gosta de caminhão pra ‘macho”, brinca o executivo da NC2.

Foto: FH (Divulgação Volvo)

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