Roubo de carga encarece frete e pode causar desabastecimento

Algumas empresas já aumentaram em 30% o custo do frete no Rio de Janeiro, um dos estados mais atingidos pelo roubo de carga

Um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral, divulgado na quinta-feira (19), mostra que itens relacionados à segurança do transporte de produtos nas cidades brasileiras são os que mais têm contribuído para o aumento dos custos de logística.

A Pesquisa de Custos Logísticos no Brasil 2018, coordenada pelo professor Paulo Resende, aponta a distribuição urbana, seguros e rastreamento e segurança dos veículos de carga entre os quatro itens que mais pesam, segundo avaliação das empresas.

A pesquisa ouviu 130 empresas de diversos setores, cujo faturamento representou 15,4% do Produto Interno Brasileiro (soma de todas as riquezas produzidas no país) no ano passado. O professor Paulo Resende diz que distribuir mercadorias nas grandes cidades chegou a uma “situação caótica”.

“A questão da logística urbana se transforma em um ponto de grande preocupação. Principalmente, por causa da questão da segurança. Os custos estão disparando… seguro de carga, rastreamento, escolta armada e a restrição por parte das empresas em mandar seus produtos para determinadas regiões brasileiras.”

Aumento do custo do frete

Resende acrescenta que algumas empresas já aumentaram em 30% o custo do frete no Rio de Janeiro, um dos estados mais atingidos pelo roubo de carga. Outros fabricantes já não atendem mais em municípios fluminenses.

“Mas não é só no Rio de Janeiro. Os roubos de carga também estão se tornando frequentes em capitais do Nordeste e na região metropolitana de São Paulo. No final das contas, a sensação de insegurança acaba atingindo toda a cadeia produtiva, com efeitos ruins para o consumidor.”

Um levantamento da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), mostra que o Estado registrou em 2017 10.599 roubos de carga, o equivalente a um caso a cada 50 minutos. Em relação ao ano anterior, o aumento foi de 7,3%.

Desde março de 2017, foi criada pelas transportadoras uma taxa extra para cargas que têm como origem ou destino a capital fluminense. O preço de cada produto carregado subiu em média 1,5%, de acordo com a entidade.

O professor da Fundação Dom Cabral conversou com executivos durante a elaboração do estudo e diz que muitos deles já não entregam mais em áreas onde há elevado risco à segurança e que isso pode significar um problema futuro para os consumidores.

“O varejista não tem capacidade logística para determinados volumes. Então ele começa a glosar [rejeitar] determinadas ofertas. Com o tempo, demanda vai ser maior do que eles [lojas] vão ofertar, então há tendência de aumento de preço nas áreas afetadas. Mas isso tem reflexo em outras aéreas também.”

Infraestrutura precária

Executivos de multinacionais relataram na pesquisa que o Brasil é o pior país do mundo quando o assunto é logística. Além da insegurança, existem graves problemas de infraestrutura.

A malha rodoviária prejudica a escoação da produção agrícola, o grande destaque da economia brasileira no ano passado. Resende exemplifica que a cada 100 toneladas de grãos exportadas, 20 toneladas são para pagar gastos com logística.

“Diferentemente dos Estados Unidos, em que a maior parte do custo é com armazenamento, no Brasil, é com transporte. Isso significa perda de competitividade na veia.”

Os custos com logística no Brasil subiram R$ 15,5 bilhões entre 2015 e 2017. No geral, foi constatado que as empresas brasileiras gastam, em média, 12,37% do faturamento bruto com logística no ano passado.

Com informações do R7

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