Por Mauro Cassane
Editor do Portal
Há mais de uma década que o Brasil é o maior mercado do mundo para a Scania. A importância estratégica do país motivou a fabricante sueca a usar a Fenatran como plataforma mundial para o lançamento de sua nova geração de motores. O diretor-geral de vendas e serviços da Scania no Brasil, Roberto Leoncini, fala com exclusividade ao Portal Brasil Caminhoneiro sobre os problemas enfrentados na Europa, planos da Scania para encarar a briga com os novos concorrentes por aqui, a entrada no segmento dos semipesados e as perspectivas do mercado nacional de caminhões.
Recentemente a Scania anunciou redução de 15% em sua produção na Europa em função da severa retração daquele mercado. Contudo, há quase uma década o Brasil é o principal mercado da marca e aqui a produção vem crescendo. Qual será o papel da Scania Brasil neste novo cenário que se descortina?
Produzimos de acordo com os pedidos recebidos dos clientes, além disso o ajuste de produção anunciado recentemente pela Scania ocorrerá apenas no continente europeu. A América Latina continua com a demanda aquecida e não será contemplada nesta estratégia por enquanto. O Brasil é historicamente o maior mercado em vendas de caminhões, ônibus e peças para Scania. Mesmo com as mudanças de cenário previstas para 2012 com a introdução do Proconve P7, acreditamos que o País manterá o mesmo papel no cenário global, especialmente a partir do segundo trimestre, quando o transportador estará mais familiarizado com os veículos que atendem ao Proconve P7.
De janeiro a outubro deste ano o mercado total cresceu em comparação com o ano passado, mas não foi um bom ano para a Scania que, no período, caiu 11,5% em relação às vendas no mesmo período do ano passado. O que houve com a Scania?
De janeiro a outubro deste ano foram emplacados 10 737 caminhões pesados Scania. Estamos em segundo lugar se avaliarmos o ranking geral. Esse resultado é muito bom, apesar da queda de 11,5% se compararmos o mesmo período do último ano. Estamos conseguindo atender as exigências de rentabilidade do grupo e, o mais importante, mantendo uma entrega de produtos sustentável ao nossos clientes, respeitando prazos e necessidades de renovação e ampliação de frota de cada um.
Já nos semipesados vocês estão em franca expansão com os caminhões P. Alguma estratégia específica para este segmento?
Aumentar a participação em vendas de caminhões semipesados é uma das prioridades da Scania. Começamos a atuar fortemente neste segmento em maio deste ano e já começamos a colher bons resultados. Este ano foram emplacados 193 caminhões pesados, contra dois do mesmo período de 2010, ainda não são grandes números mas já apontam que estamos na direção correta. Estamos intensificando os nossos esforços para conhecer melhor o transportador que atua neste segmento e, dessa maneira, oferecer a ele a melhor solução. Assim que cumprirmos esta primeira etapa, a tendência é que a participação da Scania neste segmento cresça de forma expressiva, já que temos um produto de confiabilidade comprovada no mercado.
A Anfavea prevê um mercado total de 180 mil caminhões neste ano, resultado pouco melhor que no ano passado. Qual a estimativa da Scania para este ano?
Não fazemos previsões. O que posso adiantar é que fecharemos com um número um pouco menor que o de 2010, que foi recorde absoluto em vendas na história da Scania no mundo com 15 408 veículos comercializados. Vale, novamente, ressaltar que o importante para a Scania é entender as necessidades de seus clientes e atendê-las, é isto que estamos fazendo.
Considerando o sobrepreço dos veículos com motorização P7, agravado por incertezas macroeconômicas, com qual perspectiva de mercado a Scania trabalha para o ano que vem? Teremos uma queda, pode estabilizar ou vai crescer?
Ainda há alguma incerteza por parte de alguns transportadores em relação ao abastecimento do veículo e o uso do Arla32, mas acredito que esta situação deve ser normalizada assim que o processo de distribuição for esclarecido. É preciso salientar que o transportador adquire veículos quando existe necessidade de transporte e se há demanda, como os indicadores econômicos apontam, não faz sentido a retração nas vendas devido à mudança de legislação. Acreditamos em um mercado estável para o próximo ano.
No segmento de extrapesado é notório uma certa corrida entre as fabricantes no sentido de colocar no mercado o caminhão com a maior potência. A Volvo, por exemplo, recentemente divulgou seu caminhão com 750 cv de potência. A Scania já terá no Brasil seu caminhão com 620 cv. Até que ponto o título de caminhão mais potente do mercado é importante?
A potência passa a ser o item mais importante a partir do momento em que o veículo existe para atender às necessidades de transporte de nossos clientes. Aliás, este é um compromisso levado muito a sério pela Scania: oferecer o caminhão ideal para cada tipo de aplicação.
O V8 de 620 cavalos e 3.000 Nm de torque foi introduzido no portfólio para o mercado brasileiro para atender necessidades especificas de certas aplicações, um exemplo é o segmento de cargas indivisíveis de até 180 toneladas. É um caminhão ideal para transportadores que precisam de força e capacidade de carga e trafegam por rodovias de topografia pesada, nestas condições o R 620 demonstra toda sua magnitude aliada à economia de combustível.
Até os anos 1980 a maioria dos transportadores comprava caminhões extrapesados movidos pela tradição, especialmente familiar. Atualmente, a realidade é bem diferente. Muitos fatores técnicos e de serviço são levados em consideração. O que a Scania está fazendo para continuar competitiva e brigar pela liderança deste segmento?
A Scania possui operações no Brasil há mais de cinquenta anos e, ao longo dessas cinco décadas, temos desenvolvido uma série de soluções baseadas na convivência com os nossos clientes, já entendemos há bastante tempo que simplesmente ofertar o caminhão não é suficiente. Foi daí que estruturamos um portfólio com diversificadas opções em veículos e serviços e construímos uma rede com mais de cem pontos de atendimento. Acreditamos que o segredo para continuar competitivo no mercado é justamente atuar em parceria com o transportador para encontrar soluções de fora para dentro da empresa. É preciso estar de olho no campo para saber o que os nossos clientes precisam e o que os clientes dos nossos clientes precisam e, com base nessas informações, desenvolver a melhor alternativa para garantir a rentabilidade do negócio deles.
Qual a estratégia da Scania para brigar com os competidores com preços mais agressivos, como as chinesas, e também com os clássicos europeus, como a DAF e MAN?
A estratégia da Scania é justamente contar com a estrutura que foi construída ao longo de cinco décadas de atividades no Brasil. Conhecemos o transportador brasileiro e as características de transporte daqui, temos uma rede estruturada e contamos com pessoas que sabem identificar a melhor solução para cada cliente. Não é de uma hora para outra que essas empresas conquistarão esse espaço.
Na sua opinião o câmbio automatizado será predominante nos caminhões extrapesados ainda nesta década? Por que?
Sim. As vantagens do câmbio automatizado estão cada vez mais perceptíveis para o transportador. É um benefício para o motorista, que pode realizar uma viagem mais segura, com o foco voltado totalmente para a estrada enquanto a eletrônica embarcada ajuda com as trocas de marchas e é vantagem para o transportador que, além de aumentar a rentabilidade de sua frota por meio da economia de combustível e do menor desgaste de componentes do veículo, reforça a atratividade de sua empresa junto aos motoristas.
Foto: Divulgação Scania