Tecnologia do presente para caminhão do futuro

por Mauro Cassane,
editor do Portal Brasil Caminhoneiro, de Hannover, na Alemanha

Em noite de gala para jornalistas de todo o mundo, Wolfgang Bernhard, presidente mundial da Daimler Trucks, entrou no palco do Centro de Convenções de Hanover, Alemanha, dirigindo o Future Truck 2025, o caminhão que é a grande atração no IAA deste ano, maior evento do mundo do setor, que começou no dia 25 deste mês e vai até o dia 2 de outubro. No vídeo, antes do caminhão entrar no palco, era possível ver o veículo rodando pela estrada enquanto o CEO da empresa virava o banco de lado e ficava, despreocupadamente, verificando emails sem nem precisar acelerar, brecar ou desviar de algum obstáculo.

Os sensores, que fazem uma varredura de tudo o que está à frente, aos lados e até atrás, conversam com os sistemas eletrônicos de segurança ativa e de condução e fazem o caminhão seguir viagem no modo “piloto automático”. Não dá pra dizer, ainda, que é como um avião onde o piloto pode sair para ir ao banheiro o tomar um cafezinho enquanto o voo segue em segurança sem percalços. Caso o motorista saia do banco do Future Truck, o sistema identifica instantaneamente sua ausência e interrompe o processo, parando o veículo. Portanto, o veículo ainda não pode andar sozinho. Precisa, como sempre, do motorista. Os retrovisores foram substituídos por câmaras, mas isso não é exatamente novidade.

No IAA de 2011, a Iveco apresentou seu caminhão futurista, o Glider, e o veículo já tinha este dispositivo que, de maneira geral, é de conceito simples e óbvio. Sofisticadas câmeras enxergam melhor do que qualquer retrovisor e, certamente, de maneira mais eficiente que os próprios olhos humanos.

A cabina chamou a atenção, por suas linhas fluentes, leves e aerodinâmicas, mas Martin Zeilinger, diretor de engenharia avançada para caminhões, da Daimler, logo explicou, com a peculiar sinceridade alemã, que o design da cabina é praticamente uma licença poética. “Apenas pensamos em uma cabina bonita para equipar o Caminhão do Futuro, não seria esta a cabina deste veículo. Nos concentramos mesmo na integração dos sistemas que fazem com que o caminhão seja autônomo”. O fato é que o veículo não é tão autônomo assim, uma vez que, basta o motorista sair de seu banco que o sistema para completamente de atuar.

Por conta das severas legislações da Alemanha, no que diz respeito à condução de veículos, os engenheiros da Mercedes-Benz sabem que a viabilidade deste produto, em uma perspectiva mais otimista, seria para 2025. Mas todas as tecnologias que, alinhadas, asseguram esta visão futurista já existem no presente. Câmeras, sensores e comandos que fazem o caminhão acelerar, brecar ou mesmo diminuir a velocidade de acordo com a velocidade do veículo que está circulando à frente, bem como sensores que não deixam o caminhão sair de sua faixa de condução já existem há mais de cinco anos. Muitos destes equipamentos podem ser encontrados nos caminhões mais sofisticados da Volvo, Scania, Iveco e da própria Mercedes-Benz, inclusive aqui mesmo no Brasil.

O grande mérito, contudo, da engenharia da marca da estrela foi integrar estes sistemas todos, fazê-los se entenderem e, com isso, foi dado o primeiro passo para o caminhão andar sozinho. Mas lembre-se, apenas um pequeno passo. O motorista ainda tem que estar lá, muito atento, se quiser ultrapassar, parar no acostamento, entrar no posto de abastecimento ou caso chova ou caia neve, assumir o controle. Vai ser preciso bem mais que 10 anos para um caminhão andar, de verdade, sozinho. E em estrada ruim, como é o caso do Brasil, neste caso é preciso deixar claro que tecnologia não opera milagres. Aqui no Brasil se daqui dez anos tivermos estradas um pouco mais parecidas com as europeias já podemos nos dar por satisfeitos.

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