Lentidão na aprovação de financiamentos aumenta risco nas operações de concessionárias

por Fábio Rogério
da Redação do Portal

Ao fechar o ano de 2011, o segmento de concessionárias espera aumentar as vendas de caminhões em 15% na comparação com 2010, segundo projeção de Sérgio Reze (foto acima), diretor da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Enquanto as vendas de pesados vão bem, o XXI Congresso Fenabrave – realizado em São Paulo/SP – mostrou que os empresários brasileiros ainda precisam resolver sérios problemas de estrutura do mercado, como a falta de mão-de-obra especializada e a demora na aprovação dos financiamentos.

Na parte comercial, ninguém do setor reclama que 2011 marcou a retomada do consumo e a estreia de novidades, como o aumento da oferta de caminhões extrapesados. Até as montadoras reconhecem o profissionalismo das concessionárias brasileiras, citando cases de sucesso: “Neste ano, duas concessionárias brasileiras estão entre as 10 que mais venderam caminhões Volvo no mundo. São elas: Auto Sueco (2.007 unidades) em sexto lugar, e Dicave (1.685 unidades) em décimo”, disse Roger Alm, presidente da Volvo Caminhões Brasil.

Roger Alm, da Volvo Brasil, elogiou desempenho de concessionários brasileiros

Para a marca sueca, o Brasil vem crescendo de maneira exemplar. “O mercado de caminhões no Brasil dobrou nos últimos 20 anos. Enquanto em 1990, de cada 1.000 unidades produzidas pela Volvo, 15 eram comercializadas no Brasil, em 2011 esse índice de comercialização subiu para 120 unidades, fazendo do País o maior mercado da Volvo no mundo. Entre janeiro e setembro deste ano, já entregamos 15.500 caminhões, ficando a frente dos Estados Unidos (14.611) e França (4.491)”, comentou Alm.

Mão-de-obra e Financiamento

Uma mesa-redonda reunindo entidades representativas das concessionárias Iveco, Mercedes-Benz e Volvo mostrou que o segmento ainda se preocupa em resolver problemas que podem ser piores em um futuro próximo, quando o mercado demandar por serviços de pós-venda.

“Contratar um vendedor não é difícil, pois muitos candidatos são atraídos pelas boas comissões. Agora, quando vamos para ‘dentro da concessionária’, na oficina, o quadro é outro. Nós precisamos de mais mecânicos”, expôs Márcio Guedes Paschoalin, diretor da Abravo (Associação Brasileira dos Distribuidores Volvo).

“Acredito que precisamos atrair mais o jovem para a área técnica. Muitos ainda têm uma resistência em ingressar na profissão de mecânico por acreditar que ela se resume a ficar sujo de graxa embaixo de um caminhão. Os conceitos estão mudando, e a tecnologia já trouxe um novo perfil de profissional, chamado até de ‘mecatrônico’. É um desafio que precisamos vencer”, apontou Airton Vieira Pinto, presidente da Ancive (Associação Nacional de Concessionários Iveco).

Financiamentos com demora de um mês elevam riscos, segundo João Saadi, da Assobens

A lentidão e a cautela dos bancos na aprovação de financiamentos também foram reclamações unânimes entre os concessionários. “Precisamos agilizar urgentemente, principalmente os com TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, caso do Finame e do Leasing). Hoje, demora, no mínimo, um mês para um financiamento ser aprovado. Enquanto isso, o que fazemos? Entregamos o caminhão para o comprador, e corremos o risco de 30 dias depois receber uma certidão negativa do cliente. Casos como este exemplo já aconteceram em nossa rede”, enfatizou João Batista Passos Saadi, da Assobens (Associação Brasileira dos Concessionários Mercedes-Benz).

Euro 5

O novo sistema de motorização dos caminhões também foi um tema discutido por concessionários. Para o diretor da Fenabrave, a adaptação do mercado será lenta, e as vendas poderão cair no primeiro trimestre, voltando a crescer em seguida. “Prefiro não falar em índices, mas a queda é esperada”, disse Reze.

“Mesmo com situações favoráveis como a estabilização da inflação, a manutenção de Finame e o IPI reduzido, nossos associados têm encontrado dificuldade em expandir suas sedes. O preço do metro quadrado tem se elevado de maneira absurda em algumas cidades”, comentou Airton Vieira, da Ancive.

Quanto ao Euro 5, o presidente das concessionárias Iveco comentou que o mercado ainda não tem muita confiança nas mudanças: “Nossos clientes ainda têm muitas dúvidas sobre como será o abastecimento do diesel S-50. Por isso, estimo que nossas vendas, na pior das hipóteses, podem cair de 5% a 10% em 2012”.

Tal quadro poderia aquecer o mercado de caminhões seminovos, que as concessionárias ainda olham e trabalham com reserva. “Geralmente, o concessionário o caminhão antigo do cliente que entra como parte do pagamento não vem em boas condições. E quando nós o revendemos, precisamos dar manutenção, e isto às vezes gera prejuízos tanto para o cliente quanto para nós”, finalizou João Batista Saadi.

Fotos: Fábio Rogério

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