Cálculo coloca em xeque a viabilidade do projeto da Tesla
Uma das principais consultorias de energia da Europa estimou que a recarga das baterias do caminhão elétrico da Tesla vai exigir energia equivalente à usada para abastecer 4.000 casas. O cálculo coloca em xeque a viabilidade do projeto.
A montadora de automóveis elétricos americana anunciou neste mês um projeto de caminhão elétrico, prometendo aos motoristas que eles poderiam recarregar as baterias para permitir percursos de até 650 quilômetros em 30 minutos, usando um novo “megacarregador” que a empresa vai fabricar.
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John Feddersen, presidente-executivo da Aurora Energy Research, consultoria criada em 2013 por um grupo de professores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, disse que a energia requerida para recarregar uma bateria nesse prazo seria de 1.600 quilowatts.
Isso bastaria para abastecer entre 3.000 e 4.000 casas “médias”, disse em uma conferência em Londres na semana passada, cerca de dez vezes mais potência que a usada pela atual rede de “supercarregadores” da Tesla para seus carros elétricos. A Tesla se recusou a comentar sobre os cálculos.
Energia solar
Elon Musk, presidente-executivo da Tesla, havia declarado anteriormente que os megacarregadores seriam acionados por energia solar, mas a empresa não confirmou se eles estarão conectados com a rede elétrica, para o caso de dias nublados.
Muitos dos supercarregadores atuais da Tesla são acionados em parte por energia renovável. A empresa também testa baterias de armazenagem para aliviar a demanda por eletricidade. A Tesla não informou quando começará a instalar os megacarregadores, mas disse que as entregas do caminhão começarão em 2019.
Feddersen usou o exemplo do caminhão da Tesla para destacar a necessidade de maior debate sobre a infraestrutura atual das redes elétricas e como adaptá-la para atender à demanda que os veículos elétricos gerarão.
“Há maneiras inteligentes e maneiras idiotas de incorporar ao sistema esse nível de requerimento de capacidade, mas de qualquer forma um sistema de transporte rodoviário completamente eletrificado precisará de muitas obras novas de infraestrutura”, ele disse ao “Financial Times”.
Opinião de especialistas
Outros especialistas em tecnologia de baterias afirmaram que carregar um caminhão em meia hora exigiria tecnologia que excede qualquer coisa que está disponível.
“Os carregadores mais rápido que estão em uso hoje sustentam carregamento de até 450 watts, e por isso ainda não está claro de que maneira a Tesla pretende atingir a velocidade de recarga que pretende”, disse Colin McKerracher, diretor da divisão de transporte avançado da consultoria Bloomberg New Energy Finance. “Uma opção pode ser segmentar a bateria de alguma forma, e carregar os diferentes segmentos simultaneamente. Isso eleva o custo e não vimos nada parecido em ação na prática, e capaz de sustentar transferências de energia dessa ordem.”
A National Grid, que supervisiona o sistema de eletricidade britânico, calculou que, no cenário mais extremo, os veículos elétricos poderão criar até 18 gigawatts adicionais de demanda por eletricidade nos horários de pico, por volta de 2050 no Reino Unido.
Isso equivale a uma capacidade de geração de energia equivalente à de seis usinas nucleares de escala semelhante à de Hinkley Point, em construção no sudoeste da Inglaterra.
Especialistas do setor acreditam que o desgaste no sistema possa ser reduzido com o uso de “carregadores inteligentes”, que só reabastecerão as baterias dos veículos quando a rede puder sustentar a demanda, em lugar de em horários de pico, como logo depois do trabalho.
Com informações da Folha de São Paulo