Das pistas de testes para a boleia de um caminhão da Caravana Siga Bem; conheça Cassia Claro

Por Rafael Brandimarti
Da Redação do Brasil Caminhoneiro

Cassia Claro tinha 28 anos quando decidiu ir atrás de seu grande sonho: ser motorista de caminhão. Doze anos e muitas paradas depois, ela é hoje a primeira (e única) mulher a integrar a equipe de motoristas da Caravana Siga Bem. “Sempre gostei de caminhão, mas como éramos muito pobres, comecei a costurar com 10 anos com minha mãe e minha irmã”, lembra a bela, natural de São Paulo.

“Casei com 20 e tive meu filho, Henrique, com 28, foi quando deixei de ser costureira e decidi ir atrás do meu sonho.”

Cassia então mudou sua CNH de B para D (transporte de passageiros) e depois de D para E (caminhões pesados), mas como não tinha experiência na área, seu esforço parecia ter sido em vão. Encorajada por amigos, teve o impulso de fazer o curso de instrutora e examinadora de trânsito. “Comecei a dar aulas com meu próprio carro para pessoas habilitadas com medo de dirigir. Virei autônoma”, explica.

Mesmo tendo uma boa renda e apesar de gostar de dar aulas, Cassia ainda não estava satisfeita, então começou a disparar currículos para empresas de transporte. Depois de um tempo na fila, enfim foi chamada para trabalhar numa empresa de testes (prestadora de serviços da Ford).

Aos 36, Cassia tornou-se motorista de testes e lembra que chegava a rodar até 600 km num único dia. “Depois me colocaram [para dirigir] caminhão. Toco, truck, traçado, carreta e, por fim, bitrem.” Bingo! Quase oito anos depois de abandonar um casamento mal-sucedido para seguir seu sonho, Cassia finalmente tinha um pesado nas mãos.

Depois de dois anos na empresa, Cassia foi dispensada e voltou às aulas de direção, mas felizmente por pouco tempo. Quatro meses depois, em março de 2014, recebeu o convite para ser motorista da Caravana Siga Bem.

Caravana Siga Bem

Projeto itinerante que percorre o Brasil levando ações socioeducativas, lazer e diversão para a turma do trecho e comunidades locais, a Caravana Siga Bem se divide em dois eixos: Norte e Sul. Cassia atualmente está no comboio que percorre os estados do Sul do país.

“Na Caravana dirijo todos os caminhões, do truck ao mais pesado [um Mercedes-Benz Actros 2546]”, diz ela, que de vez em quando também assume a van executiva, pois tem o curso de transporte coletivo de passageiros (só ela e mais dois têm a habilitação). Sobre a experiência na boleia, diz que está sendo maravilhosa: “Tenho a oportunidade de conhecer diferentes lugares, estradas e culturas do país”.

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E se não bastasse isso, Cassia descobriu outra paixão: atuar. Ela faz parte da trupe de motoristas-atores que se apresentam com a peça “O Cassino do Cupido”, parte da programação artística que compõem as atividades socioeducativas da Caravana Siga Bem.

Cassia na peça O Cassino do Cupido

Na peça, que aborda a questão da violência contra a mulher, Cassia interpreta Terezinha, a protagonista. Terezinha está à procura do grande amor de sua vida e, assim como Cassia, vai ao encontro do seu sonho, ou melhor dizendo, de um final feliz.

“Nunca imaginei que um dia poderia atuar, ainda mais numa peça com esse tema, que presenciei em minha vida”, diz ela, vítima de violência doméstica no passado. “Estou adorando fazer porque é uma peça muito divertida, mas que fala de coisa séria.” O combate à violência contra a mulher é uma das bandeiras da Caravana Siga Bem.

Dificuldades no trecho

Sobre as dificuldades encontradas no trecho, Cassia cita as péssimas condições das estradas brasileiras e, claro, a saudade da família. Outra preocupação é “lutar contra o sono”. “Quando o sono vem, não tem jeito”, diz. “A solução é ligar o ar-condicionado no mais frio, colocar uma toalha molhada no pescoço, ou encostar num PA e descansar.” Cassia diz que por ser mulher também teve dificuldades em atrelar a carreta ao cavalo: “No começo achava que tinha que ter força. Hoje sei que é mais jeito do que força”.

Uma mensagem para a turma do trecho? “Que Deus abençoe todos os caminhoneiros do planeta, sem exceção!”

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