O mercado de implementos sofreu forte queda no primeiro semestre deste ano. De acordo com a Anfir (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos), a redução nas vendas foi de 40%. Os rebocados caíram quase 50% e os implementos sobre chassi 35%. Em entrevista ao repórter Fernando Richeti para o Rádio Siga Bem Caminhoneiro, Alcides Braga – presidente da ANFIR fala do cenário atual e das medidas que o setor vem adotando para driblar a crise.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
– Alcides, essa queda de 40% na carteira de pedidos era algo previsto pela entidade?
Nós tínhamos sim uma expectativa de queda para 2015, face aquilo que vinhamos passando desde 2009 quando iniciou o ciclo de PSI (Programa BNDES de Sustentação do Investimento criado para estimular a produção, aquisição e exportação de bens de capital) e que a gente veio tendo uma série de solavancos. Ou a gente estava muito alto, ou estava muito baixo, uma influência bastante intensa das condições macroeconômicas no nosso negócio com o BNDES. Cada hora, o banco atua de uma forma, freando os negócios ou em outros momentos potencializando-os com taxas baixas e prazo estendido.
– Que tipo de implementos tiveram queda mais acentuada?
Os produtos que temos vocacionados para a área de infraestrutura, como caçambas, pranchas carrega tudo e betoneiras estão apresentando queda bastante expressiva nos volumes e naturalmente isso tem a ver com o momento da economia e com a ausência de grandes obras de infraestrutura. Estamos no hiato de novos leilões de concessão de rodovias. Caíram também as vendas em nossos produtos mais sensíveis de granéis e carga seca, até em face dos volumes que eles representam na nossa produção total. Então nós temos dois tipos de queda, uma relacionada ao investimento de longo prazo e outra relativa à economia.
– E quanto ao agronegócio? O setor está em expansão e existem estudos indicando uma retomada nas vendas de caminhões para 125 mil unidades por ano até 2020. Isso não empolga nem um pouco o setor?
O agronegócio vai ajudar. Eu acho que a queda não é maior porque temos esses pontos da nossa economia que ainda conseguem se manter num patamar menos ruim, então isso também ajuda para que o número não seja pior. A gente tem realmente a linha de caminhões de cana-de-açúcar e etanol que estão colhendo uma boa safra, proporcionando um momento um pouco melhor do que eles enfrentaram ao longo dos anos. Mas a gente sabe também que existe uma frota, um volume de produtos que foram comprados nos últimos anos em função dos incentivos, das taxas e que também acabam não permitindo que a gente tenha hoje um resultado muito expressivo em face disso, porque houve uma compra na hora que isso foi oportuno.
– O festival do consorciado contemplado, o PPE (Plano de Proteção ao Emprego) estão ajudando o setor?
Imagino que, de forma expressiva, não. Temos tentado movimentos anti-cíclicos no nosso âmbito, ou seja, sem uma necessidade política de amparo econômico do Estado. A queda é muito expressiva. Estamos falando em quase 50% quase de queda. É difícil você compensar isso com movimentos pontuais como a gente tem feito, mas temos feito muito isso. O setor tem hoje uma preocupação extremamente forte de voltar a ser exportador, de incrementar nossa cultura da exportação que a gente andou perdendo nos últimos anos. Nós temos a renovação de frota, que é um outro item que a gente está lutando muito pra não deixar morrer. Nós temos alguns temas que são importantes de médio e longo prazo que a gente continua firmando posição.
– E quanto aos investimentos?
O setor está investindo em novas tecnologias, em aumento de linha de produtos, buscando a exportação. O mercado de implementos tem um perfil exportador, principalmente quando a gente fala em projetos especiais. Temos que nos reinventar o tempo todo porque de fato todos os mercados sozinhos estão pequenos, então temos que tentar juntar a maior energia possível por todas as frentes que a gente puder encontrar e vamos passar essa fase, não tenha dúvida disso.
– Você já consegue enxergar uma luz no fim do túnel então ?
Estamos trabalhando numa perspectiva de que será um segundo semestre ainda bastante difícil. Há uma série de turbulências que ainda estão por vir, que imaginamos que acontecerão na esteira desses ajustes que estão sendo feitos. Temos algumas ilhas de possibilidades de melhora repentina, principalmente nessa área de exportação, pelo câmbio. Imagino, em termos do nosso setor de mais de 1.500 empresas no Brasil, que a gente tem agora um desafio de permanecer vivos, pagando as contas, cumprindo as obrigações num patamar possível.
Eu particularmente entendo que a gente tenha uma perspectiva de mudança de cenário em mais ou menos 12 meses, a partir de junho ou julho de 2016. Só a partir daí a gente vai conseguir respirar uma perspectiva de inflexão, com o país de volta ao perfil de crescimento, de pensar pra frente mais estrategicamente. É uma fase difícil. Mas a crise, como tudo na vida, tem seu lado bom e ruim. O lado bom é que a gente tem a chance de se reinventar, reduzir custo, melhorar tecnologia, aumentar a produtividade e nós que seguramente vamos passar por essa fase, deveremos sair do outro lado desse rio mais fortes e mais preparados para seguir uma história bastante longa quando passar essa tormenta toda.