E eles chegam ao destino e dão show na capital portenha

por Mauro Cassane,
Editor do Portal

O grande comboio deixa, enfim, a Rota 14 sob chuva forte às nove da noite. Eles dirigiram debaixo de aguaceiro por cinco horas. Fazem a volta em um viaduto e pegam a estrada que vai passar por Zárate e, em seguida, acessam a autopista que liga até a capital portenha. “A gente dirige por mais de 15 horas sem pensar no tempo, mas as duas horas finais são sempre as mais difíceis”, conta o motorista Vignaldo Fizio, o piloto Vig.

Pelas janelas é possível notar que o visual, enfim, mudou. Agora, elementos mais urbanos substituem os pastos e pântanos. Postos, casas, galpões, estações de trem. É a periferia que circunda Buenos Aires. Já é noite.

Dentro da cabina climatizada do Stralis, mesmo depois de mais de 15 horas de viagem, o conforto é bem satisfatório. Chega a ser aconchegante. Vig a cada uma ou duas horas acende um cigarro. Quase não come. Mas fuma e toma Coca-Cola. “Isso serve para manter a gente em alerta”. Traga o cigarro e abre a janela para soltar a fumaça. A fumaça sai, mas entra um vento gelado de uma sensação térmica polar.

São 25 caminhões entrando na cidade. A autopista é pedagiada, forma-se uma fila imensa. Quem está nos automóveis baixa os vidros, tira fotos pelo celular. Para melhor sinalizar para a turma que vem atrás, Vig liga o giroflex do Stralis Pace Truck, que segue no pelotão da frente sempre com o motorista Balula, o que conhece bem o caminho, na liderança.

É possível ver o estádio do River Plate iluminado. Os caminhões seguem pela autopista. Dobram a direita, entram agora na cidade. Seguem pela marginal, longe do centro, passam pelas cercanias do aeroporto internacional, já se avista a placa do autódromo. O relógio marca 23h05. O cansaço é visível em todos. Buzinas na frente. Ao lado direito está o muro que guardam as pistas. O portão está aberto, aguardam o comboio. Os caminhões vão entrando, um a um, grandes heróis, para o show do próximo dia 4, domingo, na capital argentina. 23h14. Vig desliga seu motor. Chegamos.

Descemos rapidamente. Eu o cumprimento. Mais que um motorista, é um piloto. Todos desligam suas máquinas. Apagam os faróis. Saem, se agrupam. A temperatura, às 23h23, no descampado do autódromo é de 2 graus, com ventos cortantes, que faz parecer um frio siberiano. Malas são abertas. Todos se empacotam com blusas. “Vig, bote o Pace Truck na frente dos portões. Amanhã eles vão se apresentar no centro”, diz Altair.

Ontem, domingo, uma semana antes da Fórmula Truck, ao meio dia, o heróico Stralis estava solene, cintilando, no meio da grande Avenida Nove de Julio, a mais larga e importante de Buenos Aires, que foi fechada para a apresentação de alguns caminhões.

Estava ali também, tinindo de limpo, brilhando seu ofuscante vermelho Ferrari, o caminhão tocado pelo Neno com os bólidos de Beto Monteiro e Paulo Salustiano sobre ele. “Desde que cheguei não tive tempo ainda de tomar meu banho, mas demos um bom banho neles às sete da manhã”, diz o estóico Neno, sorridente, alto astral, orgulhoso, no meio da avenida mais importante da Argentina, ostentando a camiseta vermelha da Scuderia Iveco, e sob olhares contemplativos de centenas de portenhos.

Foi seu merecido momento de plena glória. Uma glória de todos estes “pilotos” anônimos que não aparecem na mídia, que nunca dão entrevista, que não sobem no pódio, mas que sem eles não existiria o grande circo da Fórmula Truck. “Estar aqui hoje, ver este movimento todo, bem no coração da Argentina, já é uma sensação de vitória pra gente”, diz Neno. Aplausos para estes campeões!

Foto: Mauro Cassane

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